O Guaraná
"Convido Brandão e Saíde a tomar comigo, em jejum, o guaraná em pó, milagre da Natureza descoberto e cultivado e principalmente usado todos os dias pelos índios Maués, vizinhos meus aqui do rio Andirá. A ciência já sabe faz tempo que o guaraná é poderoso energético. (Há quem o tome, com avidez, lá pelas bandas do sul, acreditando na propaganda enganosa de que o vegetal é afrodisíaco. Gente que ainda não aprendeu de onde é que nasce no corpo a vontade de amar). Os índios o tomam para ganhar força, quando vão para a caça ou pesca. Ou para tirar a moleza do corpo. Não custa nada acrescentar que para o índio o guaraná (frutinha de um arbusto que, madura, se abre e fica que nem olho de gente) tem muito a ver com a própria origem do homem, a lenda explica isso com todos os pormenores. Talvez por isso, eles o consideram uma entidade, ser superior.
Lembrei aos amigos, na manhãzinha do Jarauá, que faz um tempo estava com uns índios na aldeia de Ponta Alegre, quando o Tuxaua ofereceu o guaraná na cuia que faz a roda, como o chimarrão dos gaúchos. Tomei os meus goles, instantes depois me levantei. Com jeito de quem ia sair. O Tuxaua me advertiu: "O guaraná não gosta que saia logo depois de beber, é preciso pensar na bondade dele". [...]".
FONTE: MELLO, Thiago de. Mamirauá. Tefé (AM): Sociedade Civil Mamirauá, 2002, p. 49.
Guaraná (Paullinia cupata) Kohler F. E. Medizinal pflanzen, v.3, t. 62, 1890. www.plantillustrations.org |
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