A Garça
"A Garça. Digo no singular, porque se tu vais de canoa num finzinho de tarde, rente à margem bordada de capim canarana e de repente uma garça alvíssima levanta voo e atravessa maciamente lá para o outro lado do rio, rente à água, um tempão sem bater as asas, cortando com a sua alvura o vento do espaço - eu te garanto que tu paras de remar e ficas deslumbrado com essa coisa mágica e bela da vida da natureza que é um voo de garça solitária. Agora, imagina um bando de garça voando em formação triangular. Uma na frente, duas atrás, crescendo em número até o fim da multidão que desliza pelo céu do entardecer. Vai o bando na direção da árvore onde gosta de dormir. Peixe pequenino é seu prato predileto. Mas não despreza uma rãzinha, nem gafanhotos. Garça gosta muito de ficar pousada no dorso de um touro, para livrá-lo dos ferrões dos carrapatos. Uma tarde feita de silêncio, uma garça do rio Andirá me ensinou este poema: Vento e verão, sol e silêncio, sinto vontade de cantar.