As aves do Marajó

"[...]. O anu-preto, menor que o anu-coroca, frequenta os campos e pousa nas costas do gado para devorar-lhe os carrapatos. O japiim imita o canto dos outros pássaros. Seu ninho é em forma de saco alongado, suspenso aos galhos das árvores. O marrecão, espécie de ganso amazônico, [...], é bem menos arisco que as marrecas. Deveras curioso é o grito dos jacamins: lançam primeiro uma chamada sonora e, depois fechando o bico, fazem ouvir um rumor surdo que diminui pouco a pouco de intensidade: são ventríloquos.

Para Buffon, o beija-flor (Colibri) é, de todos os seres vivos, o mais elegante na forma e o mais brilhante pela variedade das cores - verdadeira joia da Natureza que, favorecendo-o o cumulou de dotes apenas distribuídos entre as outras aves. A esmeralda, o rubi, o topázio, brilham sobre suas penas que ele jamais suja com a poeira da Terra e, na sua vida - toda aérea -, vemo-lo apenas tocar a relva por instantes. Sempre no ar, voando de flor em flor, só habita os climas onde, sem cessar, elas se renovam.

É nas mais quentes regiões do Novo Mundo que se encontram todas as espécies de beija-flores. Assaz numerosas, parecem confinadas entre os dois trópicos: pois as que avançam no verão nas zonas temperadas, ai só fazem curta estada: parecem seguir o Sol, avançar, retirar-se com ele; e voar sobre asas do zéfiro em busca de uma primavera eterna...

Ao percorrer, durante o verão, as pradarias imensas e quase uniformes da grande ilha de Marajó, fixando-se bem a vista, divisamos, ao longe, diversos pontos móveis de um colorido variado, que nos encobrem o horizonte. Aproximando-nos, descobrimos, tratar-se de um bando de aves, pássaros na maioria das vezes, que juntos levantam voo conseguindo, em parte, toldar o céu e o Sol, por alguns segundos. "As aves, em Marajó, constituem um deslumbramento e uma riqueza". Manoel José de Miranda Neto. A foz do rio-mar. 1968, p. 46.

Florisuga mellivora
Gould, John. A monograph of the Trochilidae, or family of humming birds. v. 2, 1849
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