A saborosa refeição das araras


"O estípite liso, pardacento, sem manchas mais que pontuadas estrias, sustenta denso feixe de pecíolos longos e canulados em que assentam flabelas abertas como um leque, cujas pontas se acurvam flexíveis e tremulantes.
Na base e em torno da coma, pendem, amparados por largas espatas, densos cachos de cocos tão duros, que a casca luzidia, revestida de escamas romboidais e de um amarelo-alaranjado, desafia por algum tempo o férreo bico das araras.
Também, com que vigor trabalham as barulhentas aves antes de conseguir a apetecida e saborosa amêndoa! 
Em grupos juntam-se elas, umas vermelhas como chispas soltas de intensa labareda, outras, versicolores, outras pelo contrário de todo azuis, de maior viso e que, por parecerem negras em distância, têm o nome de araraúnas. Ali ficam alcandoradas, balouçando-se gravemente e atirando, de espaço a espaço, às imensidades das dilatadas, quando não seja um clamor sem fim, ao quererem muitas disputar o mesmo cacho. Quase sempre, porém, estão a namorar-se aos pares, pousados uma bem encostadinha à outra. [...]". Visconde de Taunay (1843-1899). Cruzando o sertão. In: BRUNO, Ernani Silva (Org.). As selvas e o pantanal: Goiás e Mato Grosso. 1959, p. 162-163.


Araras
Álbum de Aves Amazônicas 1900-1906
Desenho de Ernst Lohse (1873-1930)

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