A cozinha paraense
"Então, a cozinha
amazônica – especialmente a paraense – se destaca pela autenticidade, pela sua
índole nativa, pelo fato de os seus elementos e condimentos serem autóctone, e
por conta do que tem de mais selvagem: o picante e os aromas. E mais: ela é
quase tudo o que nos resta de nossas origens tribais. Para que seja uma cozinha
de difícil exportação (a não ser em condições especiais), pela dificuldade de
conseguir as condições ideais que pudessem garantir a fidelidade, a propriedade
do paladar autêntico.
Só quem já comeu
um autêntico pato ao tucupi paraense pode entender o quanto fica longe, apagada
e mal falsificada, a contrafação que existe em alguns restaurantes.
E, ao mesmo tempo,
explica porque é realmente difícil encontrar restaurante ou mesmo pratos
amazônicos longe de lá.
A cozinha
paraense, ou melhor, a de Belém, começa no mercado, na doca do Ver-o-Peso.
A felicidade do
estômago, diz Osvaldo Orico, “não está apenas na hora em que os pratos começam
a ser servidos; funciona desde o momento em que o feirante vê na praia, na
doca, no trapiche ou no mercado o paneiro da farinha do seu agrado, a posta de
peixe de sua preferência, o garrafão de tucupi e as pimentas em que irá ferver
o seu pato”.
É uma cozinha que
depende muito da atmosfera. Tanto que não é muito de mesa posta, vive ao ar
livre, em tabuleiros, à porta das igrejas, na calçada dos largos, na relva dos
jardins públicos, nas esquinas escolhidas.
Isso de comer em
pé, rapidamente, muito antes de ser uma importação e um estrangeirismo, já era
prática no Acre, no Amazonas e no Pará, onde é possível fazer uma boa refeição
andando em volta das tacacazeiras, dos fogareiros de mungunzá, dos tabuleiros
de beijus, dos paneiros de onde sai a pupunha”. Osvaldo Orico (1900-1981). Cozinha amazônica. 1972, p. 180.
Vendedora de Tacacá. Pintura de Antonieta Feio, 1937. Prefeitura Municipal de Belém. Belém, ontem, hoje e sempre. |
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