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Mostrando postagens de outubro, 2016

Uma noite agradável

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"Começando a anoitecer, dirigi-me pela restinga pedregosa que forma o canal, aí então totalmente seco, e me dirigi para a praia onde ficara a canoa. Quando aí cheguei, já a minha rede estava armada em duas magníficas árvores, e junto dela a minha arma de dois canos. Na parte mais sombria da floresta, num ponto de onde se avistava a canoa, o meu piloto escolheu para nossa dormida. A frescura, o som nunca interrompido da cachoeira, a lua que magnífica ecoava sua luz por entre a folhagem, o cri-cri-cri dos insetos e a voz sonora de um caprimulgus que animava a natureza, fizeram-me gozar de uma das noites mais belas da vida nas regiões equatoriais. Ao romper d´alva do dia 13, os cantos e gritos de bandos de araras, papagaios e maracanãs, que por sobre a minha cabeça passavam para irem para a comedia vieram despertar-me. Uma frescura agradável me convidava a um passeio, pela mata, o que fiz, aproveitando o tempo em que às costas se carregava a bagagem para a praia da mesma ilha

Pequeninos e mimosos colibris

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"[...]. Um vento suave fazia ondular as canaranas à margem do rio e as copa das árvores pareciam inundadas pela luz do sol, anunciando uma jornada de intenso calor. Dentro da mata ribeirinha a algaravia de inúmeros pássaros canoros, chegava aos nossos ouvidos como um grande coro de gorjeios, a espaços mesclados aos pios das grandes aves, como mutuns, os jacamins, os aracuãs, as formidáveis arapongas (verdadeiros ferreiros das florestas) e tantas outras. E, onde existisse uma flor, a todo o instante aí surgiam os pequeninos e mimosos colibris, de variadas cores brilhantes, delicadas e formosas avezinhas que são um encanto da Natureza, a esvoaçarem rápidas, ligeiras, em torno das flores cujo néctar suga com os seus longos e pontudos biquinhos, pairando a intervalos como se estivessem flutuando no ar, dando-nos a aparência duma absoluta imobilidade, traída somente pelo ruflar elétrico daquelas minúsculas asinhas... invisíveis motores celestiais. Para além, emergiam do brilhante esp

As arirambas de jaqueta verde

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"[...]. E começa a luta pela vida. Passam alto os bandos de marrecas, irerês, os casais de patos, e ainda mais madrugadores, toda a barulhenta família dos psitacídeos. Os macacos voltam a sacudir os galhos, espiando-nos inquietos e curiosos. As arirambas de jaqueta verde e colarinho branco, passam chiando a intervalos regulares, e vão pousar em galho horizontal a pouca altura, perscrutando  a água na expectativa de quebrar o jejum. Os botos róseos ou iaras mal afamados, surgem resfolegando, no seu característico modo de nadar. As monstruosas piraíbas, dão saltos espetaculares, tombando num lençol de espuma e deixando na superfície, a estenderem-se por dezenas de metros, a sucessão de círculos concêntricos. Francisco de Barros Junior (1883-1969). Caçando e pescando por todo o Brasil. 5a. série Purus e Acre, [s.d.]. p. 41-42.       Ariramba ou Martim-pescador Eurico Santos. Da ema ao beija-flor. 1979. Acervo da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna - Museu Goeldi

Um concerto discordante de perfumes e cores

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[...]. Na frente do sítio, num terreno geralmente varrido, limitado no fundo pela casa e dos lados pelo rancho do forno e pelo tendal, cresciam algumas árvores frutíferas e arbustos floríferos, como laranjeiras, um pé de sapotilheira, um outro de cupuaçuzeiro, jasmineiros brancos e de Caiena, um coqueiro cujos cocos eram exclusivamente consagrados a Santo Antônio, e uma cuieira copuda, ameaçando com seus enormes frutos esféricos a segurança de uma canoa velha erguida do chão por quatro paus, cheia de terra, onde cresciam, como num canteiro suspenso, melindres, malmequeres, manjeronas, trevos, perpétuas, cravinas e outras flores vulgares, num concerto discordante de perfumes e cores. José Veríssimo (1857-1916). Cenas da vida amazônica . 2011, p. 11.     Cuieira Curti´s Botanical Magazine, t. 3374-3457,  1835. Desenho de Horsfall. http plantillustrations.org.  

Borboletas amazônicas

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"É tão excepcional o aspecto miraculoso do mundo amazônico, que os próprios sábios, no meio das frias deduções científicas, sentem-se arrebatados, de vez em quando, para os domínios da fantasia, como se estivessem subindo a luminosa escada de Jacó de um grande enlevo poético. Foi o que aconteceu a Frederico Hartt, ao descrever complicada geologia amazônica. Quando se viu, inesperadamente, alcandorado nas regiões do sonho, ele próprio advertiu-se de que devia voltar à realidade, dizendo que não era poeta, e devia por isso, falar a prosa desataviada de uma ciência. A mesma coisa deve ter acontecido a Emílio Goeldi, quando viu, na Amazônia, pela primeira vez, o espantoso fenômeno migratório das borboletas. Já anteriormente, o naturalista Bates, no Baixo Amazonas, sentira-se maravilhado com um espetáculo semelhante. Durante um percurso de oitenta milhas, viu sempre a fervilhar no espaço, miríades de borboletas, em bandos de trinta e oitenta metros de largura, atravessando cont

Os sons da vida na floresta tropical

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" Após diversos dias em Gleba Arinos, iniciamos nossa subida pelo rio a bordo da pequena lancha Santa Rosa. Na primeira noite em que navegamos no Arinos dormi pouco, apreciando os diversos sons da água e da vida na floresta tropical. Logo após o amanhecer, começamos a descer o rio, que gradativamente perdia seu aspecto plácido e tornava-se mais belo e dramático. O rio era pontilhado por inúmeras ilhas e um grande conjunto de enormes pedras submersas, das quais brotavam plantas aquáticas cor-de-rosa. Essas pedras mostravam claramente a alteração do nível das águas nas estações de chuva - brancas abaixo da linha da água e negras acima desse nível. O rio transbordava de mergulhões, que mantinham suas cabeças negras e bicos amarelos ligeiramente acima da superfície. Ao anoitecer, araras nos sobrevoavam aos pares, com suas plumas brilhando pelos raios vermelhos do sol. Cegonhas silenciosas e solitárias, de enormes asas, voavam para suas sombrias casas na floresta. Colhi uma linda G