A cada momento uma surpresa, uma revelação ...

        E a cada passo, a cada momento, uma revelação, uma surpresa, um espanto novo dentro da ramaria entrançada, da teia retorcida dos cipós, das moitas de ervas -  de tudo aquilo que parece deter o nosso passo, que nos prende ao solo úmido, que nos fecha todas as direções, sem uma clareira para desafogo.

       Cerca-nos por todos os lados um estranho universo que nem poderíamos imaginar.

        Os vegetais tomam aspectos surpreendentes, são como singular sociedade onde cada indivíduo tem uma função determinada, um temperamento, uma atitude, uma vida própria. Parece que existe uma lei especial regendo aquele organismo fitológico que começamos a compreender, a estudar, a respeitar, como se fossem nossos irmãos, inferiores apenas pela mudez e pela estabilidade.

         Certamente deve ter sido essa a impressão de todos os sábios, de todos os fitógrafos, de todos os naturalistas que penetraram nessas florestas venerandas: - impressão de temor, de assombro, de fascinação, de curiosidade.

Fonte:

PINHEIRO, Aurélio. À margem do Amazonas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1937. p. 100-101. (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5a. Brasiliana, v. 80).

 

Paisagem na selva tropical brasileira.
Ilustração de João Maurício Rugendas. 1830.


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