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Mostrando postagens de novembro, 2020

O canto do Uirapuru e as aves na floresta

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        [...].  Eis que chegavam porém uma revoada heterogênea, saís, japins, rouxinóis, teu-téus, pipiras, anus, bicudos, coleiros, patativas, bem-te-vis, canários-da-terra, tangarás, maria-já-é-dia, anambés, arapongas, ferreirinhos, urutaís, andorinhas, tanguruparás. Acamparam na mistura de retirantes flagelados, em desordem, cada qual procurando uma nesga de chão desocupado. A fauna presente, em virtude do zunzum inartístico, olhou repreensiva aquela multidão de pés-rapado. Nesse interim baixou outra revoada de surucuás, arirambas, pica-paus, cujubins, aracuans, inhambus, macucauas, frangos-d´água, maçaricos, piaçocas, garças, arapapás, colhereiras, cararás, guarás, maguaris, jaburus, tuiuiús, gaivotas, mergulhões. Arrearam com o rumor seco do fechar dum grande leque.           Foi quando o alto das clareiras se encheram de frêmitos, lembrando minúsculos aviões. Aviões que não excediam de sete a vinte e um centímetros, meio verdes, meio dourados, cujas asas, em trepidante agitação,

Um enorme bando de papagaios

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        Neste momento, precisamente 5 horas da manhã vi inúmeros bacuraus brancos ( Chordeilles rupestris (Spix, 1825), apanhando insetos sobre o rio. Mais tarde um pouco, às 6,30, quatro araras vermelhas e um enorme bando de papagaios ( Amazona aestiva Linnaeus, 1758) pousados nas árvores de um braço de terra que avançava sobre o rio. Eram mais de mil, estando ali provavelmente para se alimentarem. Conforme pude observar no Alto Xingu, é esse também um local de pouso, para onde convergem diariamente centenas desses pássaros. Seu alarido e suas curtas revoadas chamaram a atenção de todos os tripulantes. Assestando o binóculo no mais próximo da margem, pude verificar serem da espécie que menciono acima. FONTE: CARVALHO, José Cândido M. Notas de viagem ao rio Negro. Publicações Avulsas do Museu Nacional,  Rio de Janeiro, n. 9, p. 12, 1952. Papagaios Proceedings of the Zoological Society of London . 1880.  www.biodiversitylibrary.org

Lendas e curiosidades: O sapo Aru e a Mãe da Mandioca

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         As  águas e as lendas correm parelhas pela planície amazônica.          Há seres estranhos no fundo dos rios e em cada recesso da floresta remexem-se na sombra monstros indecisos.          Na cabeceira dos rios vive a mãe da mandioca, deusa simplória e campestre, que protege os roçados daquela prodigiosa planta.         Em certa época do ano, o sapo aru  na forma de um guapo mancebo, sobe até às cabeceiras dos grandes cursos d´água e vai em procura da divindade.         Sem a pompa ritual dos mistérios helênicos, sem cortejos nem ruídos, e em lugar do poean   glorioso, apenas o murmúrio da brisa anuncia o chegado da divindade.          Percorre os roçados e se encontra o mandiocal cuidado e limpo, envia-lhe chuvas criadeiras e, se ao invés, o mato invade a cultura, nega-lhe os dons da sua graça.         O povo diz que onde o aru  não aparece a roça não medra.          Eis uma lenda amável e de fundo utilitário, convidando o lavrador a cuidar com amoroso afã das lides do campo

Uma viagem pelos rios da Amazônia

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         "Na  tarde seguinte, chegamos à foz do rio Unini, meia hora após passarmos por Velho Airão, uma antiga colônia na margem sul do rio Negro. Os únicos remadores da cidade abandonada eram três construções do século XVIII, que agora se encontravam em ruínas. No dia seguinte, chegamos às corredeiras do rio Unini. Logo pela manhã chamamos o Raimundo, conhecido como "guardião" das corredeiras, para pilotar nesse trecho que se estendia por alguns quilômetros.         Atracamos em uma floresta muito escura, onde árvores gigantescas estavam astutamente entrelaçadas como colunas góticas. De um dos galhos pendiam espirais de pesadas trepadeiras em forma de cordas. Dentre elas, pendurada em uma copa verde-prateada, saía uma cobra de quase dois metros e praticamente invisível contra o fundo de plantas sinuosas. Acima da serpente circulavam dois papagaios com gritos irados e estridentes, obviamente defendendo sua cria dos saqueadores. Ignorando o drama que estava sendo encenad

As palmeiras e seus nomes genéricos

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        Agora  estou descrevendo completamente toda palmeira que encontro, e tentando desenhar a maior parte delas, de maneira que, com a ajuda dos espécimes que tenho enviado à Inglaterra, espero ser algum dia capaz de estudá-las devidamente. Não estou familiarizado com o aspecto de todas as palmeiras mais comuns, mas aprendi que é muito arriscado confiar nos nomes nativos, já que eles são muitas vezes genéricos. São os casos de "açaí", "bacaba" e "marajá", entre outros. A palmeira chamada de "bacaba" no Pará e em Santarém não é a Oenocarpus bacaba , mas sim a O. distichus . No caso das "marajás", seu número é incontável. FONTE: SPRUCE, Richard. Notas de um botânico na Amazônia . Belo Horizonte: Itatiaia, 2006. p. 242. il. (Reconquista do Brasil. Série 2. v. 236). Oenocarpus distichus C. Fr. von Martius . Historia naturalis palmarum 1817-1820.

Sua majestade, a onça pintada

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    " Das raízes das árvores gigantescas surge agora um som suave e melodioso, como se alguém descuidadamente houvesse tocado as cordas de um bandolim. São as rãs musicais. Presas às árvores pela sucção de seus pés que semelham ventosas, elas emitem sons que parecem provir de centenas de pequenos anões a trabalhar numa caverna. Longe, uma rã imita o som do contrabaixo.     Agora todas as criaturas diurnas da selva já saíram de seus esconderijos. Aí vem o enorme tamanduá. Seu focinho comprido e suas enormes patas providas de fortes garras dão-lhe o aspecto de um bicho de pesadelo, desenhado por uma criança. E existe também um pássaro de chapéu-de-sol, o pavão da mata, com o aspecto de uma gralha gigantesca, que se houvesse tornado tropical e que trouxesse, no alto da cabeça, um guarda-sol todo franjado. Enquanto vocês imaginam ser este o mais estranho animal jamais visto, eis que voa um tucano, com um bico enorme, do tamanho do corpo, dando a impressão de ter enfiado o bico verdade