Tempestade na Amazônia


"[...]. Grandes nuvens enfarruscadas surgiam de todos os lados e, em pouco a luz parecia descer de um céu de chumbo. A atmosfera era então abafante e toda a natureza, imóvel, traía um ar de susto, como a recear o desencadeamento da tempestade. Apenas,  junto das praias, bandos de gaivotas irrequietas, espicaçavam-se aos gritos, rasando a água em voos baixos. Não tardou que o vento aparecesse. A princípio, um bafo morno, pressentido ao longe pela agitação das imbaúbas, cujas folhas deixavam ver o dorso esbranquiçado. Depois, a zurriada de lufadas fortes, que sopravam na floresta e chegavam até o rio, esbracejando o arvoredo e enfurecendo as águas. Foi só o tempo de carregar nos forquilhões e meter a igarité entre as canaranas de um espraiado. Aí longe da terra firme não corríamos o risco dos esbarrondamentos e quedas de árvores. Mais alguns minutos e a chuva caía a jorros, entre relâmpagos que lanhavam o céu de lado a lado. Nunca vi trovões tão fortes e repetidos. Era um estrondo constante a repercutir longamente na mataria. O Pacatuba acocorou-se num cantinho da tolda, com a cabeça entre as mãos e a imagem de Nossa Senhora sobre os joelhos, e a cada faísca mais forte, fazia o sinal-da-cruz. Também, menos de duas horas depois, já o tempo estiava e a paisagem parecia renascer, tocada por um sol muito brando e de novo espelhando sombras nítidas na água serena do rio".

FONTE:

Cruls, Gastão. A Amazônia misteriosa. São Paulo: Saraiva, 1957. p. 20-21.


Uma canoa em Manaus
F. A. Biard. Deux années au Brésil. 1862.

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