Postagens

Mostrando postagens de março, 2018

A elegante e graciosa palmeira açaí

Imagem
"Do seio da lagoa, onde escondem e afundam as suas raízes, emergem grupos de grandes árvores; ou então, são troncos mortos e enegrecidos que se erguem no meio das águas com suas formas bizarras e fantásticas. Por vezes, dos altos ramos descem até o solo essas singulares raízes aéreas tão comuns nas florestas daqui, e a árvore parece estar apoiada em muletas. Aqui e ali, beirando as margens, a nossa vista penetra nos recessos da mata e fixa-se na estranha roupagem das lianas, das trepadeiras, dos cipós parasitas que se enlaçam aos tronos ou se balançam entre dois galhos vizinhos como cordas flutuantes. Na maioria dos casos, a margem da lagoa é um talude em declive suave, coberto de vegetação tão fofa e tão vivaz que até parece que a terra recebeu, graças ao seu longo batismo de seis meses, um segundo nascimento e retornou à vida por uma nova criação. De distância em distância, uma palmeira ergue a sua cabeça por sobre o topo uniforme da floresta, especialmente a elegante e gracio

O crepúsculo na mata

Imagem
"O tempo estava agora firme e seco, e as águas do rio baixaram rapidamente - quinze centímetros em vinte e quatro horas. Nesse lugar isolado e remoto assisti pela primeira vez - e talvez única - à atoarda feita pelos animais ao crepúsculo, que Humboldt descreveu ter testemunhado perto das nascentes do Orinoco mas que não é comum nas margens de rios mais caudalosos. A zoeira começou ao cair de uma tarde de calor sufocante, depois que o sol se escondeu por trás das árvores e o céu se apresentava de um azul intenso e profundo. Dois bandos de macacos - uivadores, um perto de nosso barco e o outro a cerca de uma braça de distância, fizeram ecoar pela mata seus apavorantes gritos. Dezenas de papagaios de mistura com araraúnas, das quais eu tentava conseguir alguns espécimes, começaram a passar em ondas no alto do céu, seus diferentes tipos de gritos e pios compondo uma tremenda dissonância. Juntando-se a essa algaravia, vibrava no ar o canto de estranhas cigarras, algumas de grande ta

Uma viagem agradável

Imagem
"[...]. Foi muito lindo entrar do estreito canal para o majestoso Tocantins, largo e cheio de ilhas. As ilhas apresentavam, igualmente todos os estágios possíveis de formação, desde a aluvião baixa que emergiu recentemente da água com arbustos esparsos e aninga ( Montrichardia ) até as ilhas de mato repletas de monumentais arvoredos antigos, que representam um estímulo tão representativo também para o baixo Amazonas. A viagem realmente voltou a ficar muito agradável, e novamente me tomou aquele sentimento bastante familiar de que jamais havia visto algo mais lindo. Até mais ou menos acima de Cametá, predomina a floresta de palmeiras Mauritia  (isto é, uma floresta mista na qual a Mauritia sobressai grandemente e é a planta característica mais perceptível); no entanto, ela não é mais baixa, mas se eleva a uma altura majestosa, trançada por trepadeiras e cercada de um largo cordão de Montrichardia . De singular beleza era um igarapé um pouco abaixo de Cametá, no qual entramos sob

O exótico Pavãozinho-do-Pará

Imagem
"[...]. Após cinco horas, chegamos aos arredores do arquipélago das Anavilhanas, um labirinto de ilhas florestais abrigando árvores e plantas magníficas. Filodendros maciços coroavam as árvores mais antigas, com suas raízes formando cortinas; arabesques de bromélias pendiam dos galhos contrastando com o céu emoldurado pela folhagem escarlate da Phyllocactus. Quando chegamos ao nosso destino, já havia escurecido completamente. Como  estávamos exaustas, nos afundamos pesadamente em nossas redes. Ao raiar do dia, com uma ligeira névoa flutuando sobre o rio e mascarando as florestas das Anavilhanas, apressamo-nos para sair e iniciar a exploração da região. O jardim era um pomar de palmeiras açaí e buriti, além de árvores de caju e cupuaçu. Um igarapé limitava a terra na parte superior do rio; nas margens, sustentadas pelas raízes da sapopema, espalhava-se uma árvore altiva. De seus galhos mais remotos e altos pendiam colonias de ninhos de japus. Talvez o pássaro mais bonito de tod

Plantas aquáticas

Imagem
"A planta aquática, desde os brejos sombrios às correntes batidas de luz, desde os pântanos solitários aos paranás povoados, desde os aguaçais putrefatos às baías iluminadas, denuncia a profundidade, o sabor, a densidade, a fauna, a cor das massas líquidas. O tapuio sentado à proa de sua montaria ligeira, ladeado de ninféias, rodeado de gramíneas, sombreada de bombáceas sabe do fundo em que navega, do peixe que procura, das cobras que o espreitam. Adverte-o a flora circundante. O talo do caraná, o molho da pataqueira, o charão da vitória-régia, a copa da mamorana, o coração da aninga, a touceira do aturiá, a haste da palmeira representam a sonda da sua canoa. Em vez de mergulhar o prumo no líquido mergulha a vista na vegetação". Raimundo Morais (1872-1941). Na planície amazônica . 6. ed. 1960. p. 39. Victoria amazonica Revue horticole, serie 3, v. 1, p. 141, t. 8, 1847. www.plantillustrations.org