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Mostrando postagens de agosto, 2017

Vegetação do igapó

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"[...]. Deixando de lado, porém, as regiões limitadas de campos, reinam em toda parte as associações florísticas típicas do igapó, da várzea e da terra fire. O caçador usa a canoa para ir à sua caça no mato. Através de tapetes flutuantes de lentilhas d´água os índios empurram a sua canoa; talvez eles atravessem uma lagoa na qual as folhas gigantescas da Vitória régia cobrem a superfície quase por completo. Depois procura-se um lugar raso na beira para encostar. Atravessando camadas de lama entre aróideas (hoje aráceas) e espécies de Amaryllis chegamos à vegetação do igapó. Diversas plantas de Ciperáceas e de espécies de cana circundam-nos. Árvores delgadas de Cecropia erguem-se ao céu por cima de folhagem rala, e, logo quando avançamos vagarosamente por um solo mais sólido de várzea, cingem-nos moitas densas de arbustos muitas vezes espinhentos. Palmeiras movimentam as suas palmas ao vento, e, aqui e acolá, transpomos troncos de árvores caídos e em decomposição. Ali aparece um

Um tucano domesticado

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"Certo dia, caminhando pela estrada principal das matas de Ega, vi um destes tucanos pousado gravemente em ramo baixo e não tive dificuldade em agarrá-lo com a mão. Parecia ser ave domesticada, fugida, mas ninguém veio reclamá-lo, embora eu o tivesse guardado em casa vários meses. A ave estava faminta e doentia mas depois de alguns dias de boa vida, recobrou a saúde e vivacidade e tornou-se o mais divertido dos companheiros. Publicaram-se muitas excelentes narrativas sobre os costumes dos tucanos mansos e, portanto, eu não os descreverei com minúcias, mas não me lembro de ter visto qualquer notícia sobre a sua inteligência e confiante disposição, quando domesticados, qualidades que no meu pareciam quase iguais às dos papagaios. Eu deixava o Tucano andar livremente pela casa, ao contrário do que costumava fazer com os outros animais amansados. Nunca mais subiu em cima de minha mesa de trabalho, depois de correção severa que recebeu, da primeira vez que o fez. Costumava dormir na

O passarinho que emudeceu o Uirapuru

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"[...]. O uirapuru que cantava possuía na voz qualquer coisa de flauta e violino. Embaixo, no amplo descampo, acumulavam-se centenas de milhares de animais, inclusive alguns anfíbios, e mesmo ictiológicos, vistos no verão duro a se mudarem deste para aquele ponto. Havia a trocal e havia a queixada. Papagaios, periquitos, graúnas, tucanos a se misturarem no arvoredo aos lagartos, aos tatus, aos japiins, às tucandeiras. Largas placas de saúvas e formigas de fogo envolviam pacificamente os mais gulosos inimigos: os tamanduás, sem que estes manifestassem, como de costume, a mais leve hostilidade. [...]. A atmosfera vibrava à irradiação cadenciosa da música ondulante e entorpecente. Alguma coisa de misterioso tal a originalidade, fremia naquelas árias, obra, quem sabe, de um deus autóctone. [...]. Nesse ínterim, ouviu-se uma linda ária para as bandas vizinhas da capoeira, à esquerda do lugar onde estavam os bichos. O canto era tão comunicativo, ao mesmo tempo que belo, a ponto do

O Guará com sua rica plumagem flamejante

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"Nas praias mais desertas, quando uma camada de lama substitui a areia ou se cobre de vegetação característica dos terrenos banhados pelas grandes marés salgadas, fervilham os caranguejos, os siris, saratus, os maraquanis, guarás, os sararás. Dá-se então a cena interessante de afluência de várias aves, apenas se retira a maré. Entre elas distingue-se francamente o guará. Sua rica plumagem flamejante faz dele um magnífico ornato dessas praias. Quando novo é ele negro, mas correm os anos e o carvão se faz brasa viva. Quando a aurora rubra sucede às trevas da noite, recorda a transição das cores do guará. É de particular amigo dos maraquanis; não faz, portanto, concorrência ao homem que não é apreciador desses modestos habitantes das praias, se bem que o não despreze. Não são deselegantes as linhas do guará. Lembra a garça esbelta. Contudo, o que nele é mais atraente, sem dúvida, é o vivo colorido da indumentária natural. Afirmam-nos que o guará é perfeitamente domesticável, ma

Agradável impressão do Araguaia

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"[...]. Não posso esquecer-me da agradável impressão que me deixou esta primeira noite do Araguaia. O céu tinha estado nublado até essas horas; de quando em quando, o vento mugia nas praias e as nuvens largavam gotas raras, mas grossas, de uma chuva gelada; na hora, porém, em que eu me deitava, as nuvens rarefizeram-se e foram pouco a pouco se dissipando, até que o céu se tornou límpido e puro como um espelho infinito de safiras; então, no oriente, que se avistava muito ao longe, porque naquelas planícies não há morros, nem outeiros, nem serras, a lua desenhou-se calma e revestida desse encanto melancólico que tem sempre esse astro da noite em nossas solidões, despertando no coração vagas saudades e incertas esperanças de um futuro ideal, que nunca realizaremos na terra, e que é, talvez, uma aspiração de nossa alma para a imortalidade. Fora-me impossível descrever o que então senti à vista daquelas paisagens tão grandes, contempladas de uma das mais belas praias do rio, ao

As graciosas plantas à margem da lagoa

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"Entre as graciosas plantas da margem da lagoa merece também atenção especial a Mari-Mari, qualidade de Cássia , cujas belas e longas vagens são apreciadas pelos índios como um grande petisco. Nas calmas enseadas, enfim, sobrenadam, grandes como outras tantas barquinhas e da forma de bandejas, as folhas da soberba Victoria regia , a rainha sem rival de toda a flora aquática. Petulantes golfinhos brincam em cardumes no meio do lago. [...]. Lá onde não chegam as inundações periódicas, na chamada terra firme, a vegetação já assume caráter diferente. O castanheiro ( Bertholletia excelsa ), nosso augusto conhecido das margens do Tocantins, aparece aqui outra vez em grandes bosques, ornado dos seus grandes e pesados cocos. Aqui também é que se encontra a verdadeira riqueza de madeiras de construção, cuja enumeração encheria um volume. [...]". Paulo Ehrenreich (1855-1914). Viagem nos rios Amazonas e Purus. Revista do Museu Paulista , São Paulo, t. 16, p. 305, 1929.

Encantadores passeios pela floresta

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"Um dos grandes prazeres da estadia em Tefé, é que temos ao nosso inteiro alcance encantadores passeios. A minha maior diversão e passear de manhã muito cedo, pela floresta que domina o povoado. É alguma coisa de admirável contemplar, dessa elevação, o sol nascer por cima das pequeninas casas que estão a nossos pés, o lago pitorescamente recortado de pequenos canais que se prolongam ao longe, e, nos últimos planos, o fundo das grandes florestas da margem oposta. Do nosso posto de observação sai um estreito caminho que se estende por entre as moitas e conduz a uma magnífica mata, espessa e sombria. Aí pode a gente vagar ao léu do seu capricho, porque há como que um dédalo de pequenas trilhas abertas pelos índios através das árvores. E como não se deixar tentar pelo sombrio frescor, pelo cheiro dos musgos e das filicíneas, pelo perfume das flores? A mata é cheia de vida e de ruídos; o zumbido dos insetos, os sons estrídulos dos gafanhotos, o grito dos papagaios, as vozes inquietas