Viagens pelos rios de água preta


"Se viajarmos pelos rios, principalmente os rios de água preta, escassos de sedimento, ao contrário dos outros, os de aluvião, não teremos grande contato com a avifauna amazonense. Essas correntes fluviais são tão pobres de caça e de pesca que se lhes deu o nome de rios famintos e neles, mormente se atingirmos os seus altos, acima das cachoeiras, não será difícil passar fome. Conhecemo-los bem, pois foi por um eles, o Erepecuru, e depois o Parú, de oeste, que subimos até chegar aos contrafortes de Tumucumaque, já nos limites da Guiana Holandesa. Aí, uma ou outra ave que se visse, durante todo um longo dia de viagem, era sempre um acidente digno de nota. Isolados maguaris que , com voo pesado, à aproximação da canoa, abandonavam um pouso para procurar outro, em sítio mais distante, mas sempre à mesma margem. Arirambas maiores ou menores que riçavam o espelho das águas e surgiam com um peixinho no bico. Biguatingas de pescoço esguio colubreante mergulhando aqui para aparecer muitos metros além. Um casal de araras vermelhas cortando o azul do céu ou um caracará de asas ao pairo, pronto a despejar-se sobre qualquer presa. Em bandos, só as gaivotas, sempre a gritar, revoluteando sobre as praias, onde os seus ovos incubavam ao sol; ou, então, alguns patos asa-branca, nadando gostosamente nos espraiados de água remansosa. [...]". Gastão Cruls (1888-1959). Hiléia amazônica. 2003. p. 86-87.




Biguá e Biguatinga.
Augusto Ruschi. Aves do Brasil. v. 2, 1986. 


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