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Mostrando postagens de fevereiro, 2017

Um silêncio sinfônico na mata

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"[...]. A princípio, ainda os olhos fixavam o revestimento deste tronco e de outro, e outro, e outro, mas, depois, abandonavam-se ao conjunto, porque não havia memória nem pupila que pudesse recolher tão grande variedade. Só de frutos que não se comiam e apodreciam na terra porque nunca ninguém se arriscaria a saber se eles davam apenas volúpia ou também intoxicação, havia mais espécies do que todas as que se cultivavam em pomares europeus. [...]. E por toda a  parte o silêncio. Um silêncio sinfônico, feito de milhões de gorjeios longínquos, que se casavam ao murmúrio suavíssimo da folhagem, tão suave que dir-se-ia estar a selva em êxtase. Às vezes, era certo, uma imprevista e pânica restolhada de folhas e asas levava Alberto a parar e a agarrar-se, instintivamente, ao braço do companheiro. - É um inhambu -  explicava Firmino, sorrindo. Mais adiante, um lagarto, correndo sobre a folhagem morta, de novo o galvanizava. Mas o silêncio volvia. E, com ele, uma longa, uma in

Os banhos cheirosos da meia-noite

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"[...]. Poucas mulheres no Pará, maximé nativas, filhas da terra bendita, deixam de fazer, na data onomástica do santo, uma grinalda recendente de pataqueira, enfeitada de jasmins e rosas. E, se as coroas são infalíveis, os banhos cheirosos da meia-noite o são mais. Da barraquinha do pobre ao palacete dos ricaços, ao passar de 23 para 24 de junho, as mãos femininas ralam, misturam, combinam, mexem e filtram vegetais para o banho propício. Cada criatura possui a sua cuia de cheiro, a sua bacia, a sua banheira, uma vasilha enfim com o miraculoso líquido perfumado. A infusão admirável não somente dá sorte, alegria, prosperidade, como tira a macacoa, a caipora, o azar. Entornada sobre o corpo, equivale a uma limpeza no físico e na alma do indivíduo; dilui a graxa e a panemice; tonifica o coração e amacia o semblante". Raimundo Morais (1872-1941). Os Igaraúnas.  1985. p. 111.       Banho de cheiro na cuia Fotografia de Olímpia Reis Resque 

Victoria régia: a gigante do reino da flora

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"Rapidamente navegávamos as quatrocentas milhas que separam Maranhão do Pará, alcançando os limites orientais do Norte brasileiro, a costa oceânica dessa vasta bacia que contém uma área igual aos dois terços da Europa. Estamos prestes a penetrar numa das regiões mais assombrosas da natureza, onde tudo é construído na mais elevada escala. O rio mais poderoso do mundo nasce nas altíssimas montanhas da parte ocidental do continente sul-americano e percorre milhares de milhas através de florestas sem rival em beleza, grandeza e fecundidade. É nessa região que a "Vitória Régia", gigante do reino da Flora, recolhe-se ao seio das lagoas sombrias, ou repousa nas águas paradas, protegidas por alguma faixa de vegetação contra as águas velozes da corrente que incessantemente desce dos Andes. Milhões de aves e insetos, das mais brilhantes cores, curiosos répteis e quadrúpedes, habitam essa quase "Terra incógnita". Talvez não haja no planeta outra região que possuindo tan

Diversidade de aves

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  "Horas a fio, nossa canoa deslizou lentamente sob as árvores dessa floresta, em que a vida animal rivalizava com a vegetal em variedade e riqueza. O número e a diversidade das aves me enchiam de espanto. O conjunto das ervas espessas e dos juncos, nas duas margens, se mostrava coalhado de aves aquáticas. Uma das mais comuns era uma pernalta pequena de cor acastanhada - o jaçanã (Parra) - cujos longos dedos, em desproporção com o volume do corpo, permitem correr sobre a superfície da vegetação ribeirinha como sobre um terreno sólido. Estamos em janeiro, é para ela a época dos amores; a cada bater de remo n´água, fazemos voar os casais amedrontados, cujos ninhos chatos, inteiramente abertos, contém em geral cinco ovos cor de carne com ziguezagues castanho-escuro. Os outros pernaltas eram uma garça cor de neve, outro pardo-acizentada, algumas espécies menores, e uma grande cegonha branca. As garças cinzentas andavam sempre aos pares; as brancas andavam sozinhas, solitárias à be

A palmeira Jupati e suas folhas em forma de plumas

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"Conservamo-nos hoje tão perto das margens, que quase pudemos contar as folhas das árvores, e tivemos excelente oportunidade para estudar as várias espécies de palmeiras. A princípio a mais frequente era a Açaí, porém agora se confunde no número das outras. A Miriti ( Mauritia ) é uma das mais belas, com seus cachos pendentes de frutos avermelhados e suas enormes folhas abertas, em forma de leque, cortadas em fitas, cada uma das quais, na opinião de Wallace, constituindo a carga de um homem. A Jupati ( Rhaphia ), com suas folhas em forma de plumas, às vezes de 40 a 50 pés de comprimento, parece, por causa do seu caule curto, brotar quase do solo. O seu porte, semelhando uma jarra, é particularmente gracioso e simétrico. A Buçu ( Manicaria ), com folhas rígidas e inteiriças, de 30 pés de comprimento, mais eretas e fechadas no seu modo de crescimento, e serrilhadas nos bordos. O  caule dessa palmeira é relativamente curto. As margens desse trecho do rio são geralmente ornadas por