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Mil coisas bonitas para ver nesses campos

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          Longe do rio, podemos cavalgar milhas e milhas pelos campos ventilados, mas devemos fazer longas voltas para evitar os lagos e florestas inundadas e bosquetes de aningas de folhas em forma de escudo. Há mil coisas bonitas para ver nesses campos; flores brilhantes, brancas e amarelas, marcam a superfície, lindos silvídeos e negros japus assobiadores, poucos peixes nas lagoas e coruscantes libélulas caçando outros insetos por sobre os juncais; arbustos de folhagem delicadamente plumosa debruçam-se e estendem-se com gratidão ao sol; mas se você sacudir o ramo fortemente, eles se fecham e dobram numa triste e muda demonstração, o protesto de seu desamparo contra a força bruta. Eu devo ser delicado com as plantas sensitivas; deve haver um poder mais alto que o meu vigiando-as. Pois todas as noites elas põem as mãos e inclinam a cabeça em silenciosa prece e vão dormir calmamente sob o orvalho suave; todas as manhãs se levantam com lágrimas de prata de a...

A magnitude da vegetação

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             Sem o auxílio do lápis é deveras difícil dar uma ideia adequada da magnitude desta vegetação, em especial do modo com que tantas variedades se agrupam. Podemos ver crescer, é certo, em nossa próprias estufas algumas graciosas palmeiras, belas orquídeas com suas flores anormais, plantas do gênero Aroideae de folhas viçosas às vezes perfuradas em padrões regulares; mas o quão diferente é ver tudo isso na mata virgem, onde a natureza imperturbada pelo homem cria seus próprios prodígios, e onde não há vasos separando as filhas do solo maternal, e onde nenhum teto opaco de vidro intervém entre elas e o éter azulado!           Também nas estufas nossos olhos jamais poderiam ser agraciados com tamanhos contrastes de cor como os matizes cinza-prateado e marrom-ferrugem das folhas caídas de palmeiras e samambaias, ou o negro-escuro de um tronco apodrecido em contraste com o vermelho flamejantes da flor de uma helicôni...

Uma grandiosa cena da vida animal

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          A cena da vida animal que ora se apresenta aos nossos olhares é tão grandiosa e imponente que todos permanecemos estupefatos, retendo a respiração, cada um perguntando a si mesmo se o que vê é real ou não será uma "fata morgana" e deslumbramento de algum sonho. [...]           O que ali está em aves do brejo e aquáticas, palmípedes e pernaltas, acumuladas em um espaço relativamente pequeno; tudo o que está ali se enlameando, chapinhando, esgaravatando, bicando, mergulhando, nadando, voando, piando, grasnando, gritando, tudo ao mesmo tempo, num fervet opus  incrível, desafia qualquer descrição: diante de tais quantidades é impossível contar o dificílimo, mesmo avaliar e todos os recursos da linguagem não são bastante expressivos e brilhantes para dar uma ideia do barulho, da confusão que ali reina.         Algum êxito teria talvez, no que toca à vista, o pincel de um privilegiado pintor de...

O ajuru adocicado, de cores e diversos tamanhos

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        Godofredo, saiu, ficou olhando a baía. Tentou desaparecer assobiando, errante como um bem-te-vi, e apanhava o voo do uirapuru assustado, vozes e sabores daquele tempo. Varou o capinzal em flor beirando a Praia da Mangabeira, dá com o ajuru - fruto gostoso de comer - como este ano a árvore carregou! Dava inveja. Apanhou um, depois dois, três e tantos outros, comeu à vontade, com prazer. O ajuru adocicado, de cores diversos e  tamanhos, negros graúdos, carnudos, brancos pontos alaranjados, miúdos. Que beleza! FONTE:  BOULHOSA, Ernesto Feio. Nas margens da Baía do Marajó . Belém: Cromos, 2020. p. 137. Ajuru Ilustração de Eron Teixeira

Orquídeas dos mais estranhos formatos

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                 Troncos de estaturas gigantescas, palmeiras graciosas de diversas variedades, trepadeiras e bromélias, orquídeas dos mais estranhos formatos, pequenas samambaias, com calorosos raios de sol entrecortando em intervalos irregulares aquela densa folhagem, de forma a destacar aqui e acolá uma flor de cores vívidas, um ornamento de plumas, ou as brilhantes miçangas; [...] tudo se combinava para tornar aquela cena inesquecível, para todos nós que a vivemos. [...]. FONTE: KELLER-LËUZINGER, Franz. Os rios Amazonas e Madeira : esboços e relatos de um explorador. Belo Horizonte: Editora Dialética, 2021. p. 220. Orquidea Catasetum lindeni Cogn. Lindenia v. 8-9, 1894-1895 www. biodiversitylibrary.org

A festa de cores com a policromia das aves

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          Até aqui, quase que só temos andado com os olhos no chão ou, quando muito, levantados até a ramaria mais baixa do subosque. Se os alcançássemos agora até as frondes mais altas, então é que começaria a festa das cores, com a policromia das araras e papagaios, dos tucanos e araçaris, dos anambés e surucuás, das pipiras e beija-flores. FONTE: CRULS, Gastão. Hiléia amazônica. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2003. p. 90-91. (Coleção Reconquista do Brasil (2a. Série).  Pipiras  Album de aves amazônicas . 1900-1906. Desenho de Ernst Lohse.(1873-1930)  www. biodiversitylibrary.org

As samambaias que encantam a vista

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          Nenhuma floresta do globo possui como a da Amazônia maior número de epífitas e parasitas crescidas sob a forma de musgos e de ervas, de lianas e de arbustos. Enlaçadas, enroscadas, confundidas vicejam em tapetes, em alfombras, em festões, em vassouras, em umbelas. Mata de clima quente e úmido, semelhante a outras remotas e longínquas, [...], vai das gregas de samambaias que encantam a vista pelo desenho das folhas, ao tipo monumental  das sumaumeiras que espantam o observador pela grandeza.              Assim, no recesso florestal, cheio de sombra e de silêncio durante o dia, atormentado  de vozes e de rumores durante a noite, a multiplicidade das espécies polariza-se na beleza e na estrutura. Por dez metros quadrados de terreno há cem famílias vegetais, cujo contorno, altura e tinta se repelem e se chocam. [...]. FONTE: MORAIS, Raimundo. Na planície amazônica. 7. ed. Brasília: Senado Federal, Conselho...