Orquídeas: as "filhas do espaço"
Eu ia afinal atingindo as matas virgens por que tanto suspirara; veria a essa natureza quase desconhecida dos outros homens, onde nunca o machado trabalhara. Tinha a impressão de ser o espectador de uma nova existência, de um outro mundo. Minha tendência de esmerilar o lado cômico do que até então me fora dado ver transformava-se numa inclinação para os pensamentos sérios, para um recolhimento meio religioso. Cada remada que me ia tornando mais perto dessas florestas grandiosas apagava um pouco as recordações do passado. Estreitava-se sensivelmente o rio como querendo juntar as duas margens, desapareciam os mangues, a água doce substituía a salgada; plantas aquáticas encobriam as praias; agora, árvores frondosas e gigantescas, cobertas de parasitas em flor, dessas orquídeas tão bem denominadas de filhas do espaço, pois vivem sem ter raízes, sem saberem bem por que, e como o acaso ali as colocou.
FONTE:
BIARD, Auguste François. Dois anos no Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. p. 65-66. (Edições do Senado Federal; 13).
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Orquídea (Camaridium imbrcatum)(Barb. Rodr.). F. C. Hoehne. Flora Brasílica. 1953. |
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