As aves e seus ninhos: Japus e Japiins
A maioria das aves constrói seus ninhos em locais relativamente escondidos, ou de difícil acesso, para evitar a predação dos ovos e filhotes. Os japiins e japus parecem fazer exatamente o contrário. As grandes colônias de ninhos em forma de saco dos japiins ou xexéus são sinais comuns nas árvores das matas inundadas amazônicas. Colônias de japiins com várias dúzias de ninhos geralmente são vistas dependuradas sobre a água na margem dos rios. Em alguns casos, quando o rio chega a alcançar entre 10 e 12 m acima do nível atingido na época de seca, os ninhos dos japiins são encontrados a apenas alguns metros acima da água. Os japus tendem a construir seus ninhos nas árvores mais altas, e as ilhas fluviais, onde as florestas altas ainda existem, são as preferidas para a construção dos ninhos. Em geral, os japus são avistados em grandes bandos atravessando o canal dos rios, nos movimentos diários de ir e vir das ilhas. Superficialmente, os ninhos dos japiins e dos japus com seus ovos e filhotes parecem altamente vulneráveis ao ataque de predadores. Entretanto, uma inspeção mais atenta quase sempre revelará que existem ninhos de cabas, abelhas ou formigas nas redondezas. A proximidade de insetos sociais que ferram ou picam age como barreira aos potenciais predadores.
Os japiins e japus competem com os papagaios e araras como as aves mais barulhentas encontradas ao longo dos rios amazônicos. Acampar próximo a uma colônia de japiins ou xexéus é uma experiência singular. O lado negativo é ter os tímpanos estourados, irritando tanto com o barulho, que é necessário mudar de lugar. Também pode ser uma experiência agradável, pois os japiins são capazes de imitar os sons e cantos de outras aves e de vários mamíferos, dando a impressão de que existe uma "reunião acústica" nas proximidades. Colônias próximas às fazendas chegam a imitar as aves e outros animais domésticos. [...].
As colônias de japiins e de japus em geral constroem os ninhos em uma só árvore e, normalmente, em um único galho grande. O canto - executado principalmente pelos machos - é acompanhado por contorções e o bater frenético de asas, que se acrescentam ao efeito musical global. Os machos são responsáveis pela maior parte do barulho, e as fêmeas pelo trabalho, pois lhes é deixada a tarefa de construir os ninhos e cuidar da prole. Os machos são maiores, porém em número inferior, e provavelmente a poligamia é comum.
FONTE:
GOULDING, Michel. História natural dos rios amazônicos. Brasília: Sociedade Civil Mamirauá/CNPq/Rainforest Alliance, 1997. p. 63. il.
Japu e seus ninhos Álbum de aves amazônicas - 1900-1906 Desenho de Ernst Lohse.(1873-1930) |
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