Os pescadores do Amazonas
De manhã, quando os passarinhos acordam gárrulos nas ramas dos arbustos que crescem junto às feitorias, os pescadores saem nas suas pequenas montarias de pesca. Então os lagos, as enseadas, o igarapé, povoam-se de canoas a cujas proas um homem de camisa e calça vermelha como a pele dele, tingidas de muruchi, em pé, um largo chapéu de grelo de tucumã na cabeça, o longo arpão em punho, o comprido cigarro de tauari na boca, atento e quedo, espera que o peixe boie. De vez em quando, sustentando a haste com uma das mãos, dá com a outra, meio agachado para alcançar a água, uma remada certa impelindo a canoa, e espera; outras vezes voga mesmo com a haste, que faz de remo. Se o peixe boia, ai dele, a haste é arremessada com força e certeza quase infalível e a fisga vai se cravar na carne branca ligeiramente rósea, através das escamas rijas e vermelhas como o bago do urucu. [...]. FONTE: VERÍSSIMO, José. Cenas da vida amazônica . São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. p. 43. (Con