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Mostrando postagens de julho, 2019

A ave Cigana (Opisthocomus cristatus)

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"[...]. Espécie muito mais comum era a cigana ( Opisthocomus cristatus ), ave da mesma ordem de nosso galo doméstico. É mais ou menos do tamanho de um faisão; a plumagem é pardo-escura, manchada de avermelhado, tendo na cabeça uma crista de longas penas. É uma ave notável a muitos respeitos. O dedo posterior não está situado a um nível mais alto que os outros, mas no mesmo plano; a forma do pé está adaptada à vida, puramente arbórea da ave, permitindo-lhe agarrar-se solidamente aos ramos das árvores. [...]. A cigana vive em bandos consideráveis nas árvores baixas e arbustos da beira dos rios e lagoas, alimentando-se de vários frutos silvestres, especialmente de araçás ( Psidium sp.). Os naturais dizem que ela devora o fruto de Araceas arborescentes ( Caladium arborescens ) que crescem em densas massas nas margens pantanosas das lagoas. Sua voz é um assobio áspero e desagradável. Faz esse ruído quando alarmada, todos os indivíduos sibilando, a voarem pesadamente de uma árvore a o

As palmeiras da Amazônia

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"Em nenhuma outra parte do mundo se conhece número mais considerável de palmáceas do que na Amazônia. Ao se penetrar o Rio-Mar, saindo de Belém, avultam sobremaneira os buritizeiros de folhas em forma de ventarolas coloridas de verde escuro. Com o prosseguir viagem, vão eles rareando cada vez mais, substituindo-se pelos açaizeiros que aumentam progressivamente até próximo de Manaus. Além do açaizeiro e do buritizeiro, são encontradiças, ainda, outras espécies como o coqueiro, a bacaba, o tucum, o jupati, a juçara, o tucumã, o ubuçu, o jauari, a paxiúba e quantas outras, todas elas aproveitadas pelos caboclos, pelo uso de seus frutos, como alimento, de suas folhas para a cobertura das choupanas e para a preparação de fibras têxteis, de suas madeiras, de seus óleos e resinas, de suas cascas como estopa para a calafetação das embarcações. Há ainda as sementes ricas em óleo, servindo de combustível ou até mesmo para a iluminação; há palmeiras que fornecem os palmitos saborosos e a

O canto dos pássaros noturnos

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"Podem até ser um tanto tristonhas. Mas me fazem um inefável bem à alma os cantos dos pássaros noturnos da floresta. Dormem de dia, trabalham e cantam de noite. Eles enxergam no escuro. O mauari, espécie de garça cinzenta que só aparece quando a noite chega, enxerga o peixe comendo capim na flor da água. O bacurau, pássaro pequeno, avermelhado e bom de garras, canta o próprio nome: só que repete várias vezes as duas primeiras sílabas até largar, compridamente o nome completo. Mas gosto muito mesmo é do canto das corujas que moram nas centenárias mangueiras e no pé de cupu do nosso quintal. São de várias espécies e tamanhos. Tem a coruja-preta, a buraqueira, o pequenino caburé, o próprio mocho, o corujão de olhos vermelhos, e a alvacenta suindara. Todas de poderosas garras. Os ratos e lagartos passam mal com elas. Disse que o canto delas me faz bem à alma. Pois o meu corpo também lhes fica agradecido. Porque o canto das corujas acalenta o meu sono da madrugada. Cada qual can

O sabiá e o japiim

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"Junto à margem, com as águas a lamber-lhe o tronco, espalhando sua sombra nas águas de cristal da bacia, elevava-se airosa uma palmeira miriti. Em uma das palmas do miriti um caraxué cantava. Mais longe erguia-se uma grande árvore de cujos ramos pendiam os ninhos arboriformes dos japiins, que saltavam de galho em galho, soltando aos ares os seus alegres cantares. O japiim é o garoto dos pássaros; o seu canto é irônico, galhofeiro e, às vezes, insolente. O sabiá cantava no miriti e um canto semelhante partia do meio dos japiins. O sabiá exasperava-se, sacudia frenético as asas e arrancava da garganta as suas mais belas notas. Dir-se-ia que no bando de japiins havia um sabiá, porque um canto idêntico, de notas tão belas, respondia ao cantar pousado na rama do miriti. E assim continuavam esse mimoso duelo à face da natureza". José Veríssimo (1857-1916). Cenas da vida amazônica . 2011, p. 234. Carachué (Sabiá) - Cutipuruí - Vô-Vô - Peruinha-do-campo. Albu

O grito do Acauan

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"É tudo assim, grandioso e diferente, fascinante e enganador, a estimular a tendência fatal do homem para os grandes mistérios inquietantes. Se do alto do espalmado leque de um patauazeiro solta o seu grito funesto um acauan todas as almas se confrangem num presságio trágico. É que este sarcástico e agoirento gavião, faz com que as mulheres cantem monótona e ridicula mente o seu nome triste e os homens, obriga-os aos papéis caricatos mais inconcebíveis. O grito do Acauan ( oacaoan , que pronuncia seu próprio nome) afugenta também as cobras. Por isso o índio o imita de forma admirável". Gastão de Bettencourt (1894-1962). A Amazônia no fabulário e na art e. 1946, p. 66. Acauã ( Herpetotheres cachinnans ). Desenho de Hercules Florence. Expedição Langsdorff ao Brasil (1821-1829).