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Mostrando postagens de maio, 2018

Um bruto pé-d´água

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"O piloto é quem manda na canoa. Decide as pendências e desempata as teimas. Ninguém pode discutir com ele. No melhor da viagem, caiu um bruto pé-d´água. O patrão da navegação tinha avisado: -"Vamos ter uma boa carga d´água. Trovoada ainda está na boca do rio e eu já sinto ela aqui na minha caruara. A junta é sinal certo"... Mal sentiram no lombo os primeiros pingos, os canoeiros começaram a gritar num alarido dos infernos: - "Mandaí! Mandaí! Mãe de Deus! bem grossa e aturada, pra mim e mais vinte camaradas! " A chuva braba fazia um fragoído de tempestade no meio do rio. E o esturvo do trovão abalava a mataria molhada, onde os coriscos, riscando o céu, de vez em quando toravam um pau. Mas quem viaja no inverno está sujeito aos caprichos do piloto. Divisamos de longe, num barranco, a barraca de um seringueiro. - "Vamos amarrar ali, seu piloto?"  - "Não, que eu não peço arrancho a peste de seringueiro!" E a canoa encostou na mata bruta  onde

Plantas aquáticas flutuantes

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"E ntramos em seguida por um braço estreito do riacho, cujas águas estavam repletas de certas plantas aquáticas flutuantes que se aglomeravam em grandes massas flutuantes. A falta de vento obrigou-nos a remar, até que as ervas passaram a ser tão consideravelmente espessas que bloqueavam o canal inteiramente, tornando os remos inúteis. Os índios então desceram em terra e cortaram duas compridas varas com forquilhas. De fato, a massa vegetal era tão espessa que nela podíamos encontrar um firme apoio para as varas, conseguindo assim prosseguir. De vez em quando entrávamos em águas desimpedidas, remando então por entre exemplares de Utricularia e de Pontederia muito bonitas. Mas logo depois adentrávamos em trechos nos quais o canal estava completamente obstruído pelas ervas. As gramíneas eram por vezes tão altas que virtualmente desaparecíamos dentro delas. O pior de tudo era o fato de serem as folhas muito cortantes, bastando roçar a mão nelas para que nos lanhássemos dolorosamen

Jutaí (Hymenaea courbaril)

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"Os galhos lá em cima douram-se com os últimos raios do sol: finas folhas enevoadas de murtas e acácias. Creio que foi Humboldt quem primeiro fez notar o efeito peculiar dessas folhas pinadas, uma feição notável das florestas tropicais. Há em torno de nosso acampamento uma vintena de espécies; um esplêndido bosque se estivesse em outro lugar. Minha rede está amarrada a um jetaí, [...], madeira forte e durável mas muito dura para muitos fins. Os frutos ovais, castanhos, estão espalhados pelo chão; cascas duras, com as sementes envolvidas numa farinha doce. Uma resina pegajosa exuda do seu tronco; os índios usam essa jetaícica [...]  para envernizar seus potes e louças de barro e queimam a cerâmica em fogo alto feito com casca de jetai. [...]". Herbert Smith (1851-1919). In: PAPAVERO, Nelson; OVERAL William L. Taperinha : histórico das pesquisas de história natural realizadas em uma fazenda da região de Santarém, no Pará, nos séculos XIX e XX. 2011. p. 162-163.  Jutaí

A república dos maracanãs e dos periquitos

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"[...]. Restam ainda muitos outros pássaros, que também pertencem à república dos papagaios, e por isso muitos os descrevem como espécies subalternas na mesma transcendência dos papagaios; outros porém querem que sejam totalmente diversos, e que por si sós constituam nova república, como são os pássaros maracanãs e os periquitos. E na verdade eles só se diferenciam na sua pequenez, porque nas cores são o mesmo, porém, ou sejam da mesma, ou de diversa espécie, fazem-se acredores de alguma memória. São pois os maracanãs como médios entre os papagaios já referidos, e os periquitos, do tamanho de um pequeno frango. O bico revolto, pés, cores, habilidades e feitio tudo é de papagaio; e tem tanta variedade de castas, como os mesmos papagaios, porque há uns reais com cabeça e cauda amarelas, cotos e pontas das asas vermelhas. Outros, como os moleiros, todos verde-claros; estes sertanejos, e aqueles com alguma cor roxa, e assim nas mais castas todas galantes, e com a mesma habilidade de

Os guarás com suas asas cor de fogo

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"Nada mais luxuriante e majestosa do que a navegação selvagem que cerca Belém. Não somente a costa oceânica está margeada por uma faixa sempre verde de mangueiras, como esse cinturão verde alcança, também, o interior e se prolonga desde a foz do Amazonas e do rio Pará até a Vila  de Cametá no Tocantins e depois a oeste, até Gurupá, e, finalmente, em todas as ilhas baixas, que se poderiam denominar o arquipélago do Pará. No entanto, à medida que se afasta do Atlântico, as árvores comuns às regiões marítimas vão se tornando  cada vez mais raras, enquanto a vegetação que caracteriza a região do Amazonas vai dominando até reinar sozinha. A verdura uniforme e escura daquelas árvores mistura-se pouco a pouco, e cada lugar a uma verdura mais variada e menos carregada, alternada, ora por flores magníficas, ora pelos topes recurvados da palmeira jupati. Bandos inumeráveis de guarás ou maçaricos vermelhos se abrigam nos cimos dessas palmeiras e passeiam, aqui e ali, sobre esse fundo verde