Um bonito cenário tropical
"Como a manhã está muito clara, as massas de vegetação destacam-se em vários planos e há um quê de cenário teatral nesses amplos panos de verdura e bambolinas muito verdes recortadas sobre o azul do céu. Numa delas, pousa imóvel um maguari.
Por todos os lados, surgem fustes de palmeiras. São inajás portentosas, bosquetes de jauaris, esguias urucuris, marajás, tucumãs, patauás...
Aqui e ali, acairelando as ilhas, uma ou outra ponta de areia branca ou atijolada, onde se esgalham araçazeiros em flor, e, depois, araparis e, também, tortuosas mongubeiras.
O arapari foi uma das minhas surpresas da Amazônia. Ainda que o houvesse descrito sem margem a retificações, sempre o acreditei de porte arbustivo, quando agora venho encontrar uma verdadeira árvore, com alguns metros de altura, e dando até boa madeira para canoas.
Não se faz preciso muito tempo para que conheçamos a primeira corredeira. Vão-se à água os nossos homens, não só para que se alivie o peso à embarcação, como no intuito de levá-la a braços e a corda por entre as pedras em que o rio murmureja.
Mais adiante, já não é bastante essa manobra, e saltamos todos à margem esquerda, para a transposição da Cachoeira do Cajual. Aí, até a carga tem de ser levada às costas através de um pequeno varadouro. Contudo, perdem-se três horas, - tempo de sobra para a cata de castanhas e cajus, na redondeza, e o preparo de um bom café tomado à hora do reembarque.
Pela tarde, enubla-se o céu e o calor é intenso. Já, então, deixamos para trás o Igarapé Grande, onde um rancho de palha, agora ao abandono abriga os trabalhadores no tempo do fabrico.
Ao longe, bufam lontras à flor d´água, e na galhaça de uma grande árvore ribeirinha, dois cuatás esguritam-se à nossa passagem.
Um dos remadores, vaqueano destas paragens, vem ao encontro da nossa curiosidade e aponta-nos as plantas mais em evidência.
São escovas de macaco as inflorescências que se amiúdam à beira d´água, pintadas de vermelho vivo. Aquela árvore mais alta, é um taperebázeiro. E para atestar a dureza do seu cerne, o caboclo concluiu: "Jabuti não anda embaixo de taperebázeiro, porque se a árvore cai em cima dele, ele fica preso pro resto da vida. Isso é pau que não apodrece". Mais adiante, está um pariri, cujas frutas são muito apreciadas pelas antas. No fundo, aquela palmeira tucumã dá um vinho excelente...
Mas o céu é cada vez mais negro e a chuva não se faz esperar, pondo à prova os impermeáveis com que o Sampaio e eu nos protegemos. Felizmente, é uma rápida pancada e, em pouco, o tempo volta a clarear". Gastão Cruls (1888-1959). A Amazônia que eu vi. 4. ed. ilust. 1954. p. 38-40.
Aqui e ali, acairelando as ilhas, uma ou outra ponta de areia branca ou atijolada, onde se esgalham araçazeiros em flor, e, depois, araparis e, também, tortuosas mongubeiras.
O arapari foi uma das minhas surpresas da Amazônia. Ainda que o houvesse descrito sem margem a retificações, sempre o acreditei de porte arbustivo, quando agora venho encontrar uma verdadeira árvore, com alguns metros de altura, e dando até boa madeira para canoas.
Não se faz preciso muito tempo para que conheçamos a primeira corredeira. Vão-se à água os nossos homens, não só para que se alivie o peso à embarcação, como no intuito de levá-la a braços e a corda por entre as pedras em que o rio murmureja.
Mais adiante, já não é bastante essa manobra, e saltamos todos à margem esquerda, para a transposição da Cachoeira do Cajual. Aí, até a carga tem de ser levada às costas através de um pequeno varadouro. Contudo, perdem-se três horas, - tempo de sobra para a cata de castanhas e cajus, na redondeza, e o preparo de um bom café tomado à hora do reembarque.
Pela tarde, enubla-se o céu e o calor é intenso. Já, então, deixamos para trás o Igarapé Grande, onde um rancho de palha, agora ao abandono abriga os trabalhadores no tempo do fabrico.
Ao longe, bufam lontras à flor d´água, e na galhaça de uma grande árvore ribeirinha, dois cuatás esguritam-se à nossa passagem.
Um dos remadores, vaqueano destas paragens, vem ao encontro da nossa curiosidade e aponta-nos as plantas mais em evidência.
São escovas de macaco as inflorescências que se amiúdam à beira d´água, pintadas de vermelho vivo. Aquela árvore mais alta, é um taperebázeiro. E para atestar a dureza do seu cerne, o caboclo concluiu: "Jabuti não anda embaixo de taperebázeiro, porque se a árvore cai em cima dele, ele fica preso pro resto da vida. Isso é pau que não apodrece". Mais adiante, está um pariri, cujas frutas são muito apreciadas pelas antas. No fundo, aquela palmeira tucumã dá um vinho excelente...
Mas o céu é cada vez mais negro e a chuva não se faz esperar, pondo à prova os impermeáveis com que o Sampaio e eu nos protegemos. Felizmente, é uma rápida pancada e, em pouco, o tempo volta a clarear". Gastão Cruls (1888-1959). A Amazônia que eu vi. 4. ed. ilust. 1954. p. 38-40.
Pachira aquatica Panhuys, L. von. Watercolours of Surinam. 1811-1824. www.plantillustrations.org |
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