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Orquídeas: as "filhas do espaço"

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          Eu ia afinal atingindo as matas virgens por que  tanto suspirara; veria a essa natureza quase desconhecida dos outros homens, onde nunca o machado trabalhara. Tinha a impressão de ser o espectador de uma nova existência, de um outro mundo. Minha tendência de esmerilar o lado cômico do que até então me fora dado ver transformava-se numa inclinação para os pensamentos sérios, para um recolhimento meio religioso. Cada remada que me ia tornando mais perto dessas florestas grandiosas apagava um pouco as recordações do passado. Estreitava-se sensivelmente o rio como querendo juntar as duas margens, desapareciam os mangues, a água doce substituía a salgada; plantas aquáticas encobriam as praias; agora, árvores frondosas e gigantescas, cobertas de parasitas em flor, dessas orquídeas tão bem denominadas de filhas do espaço, pois vivem sem ter raízes, sem saberem bem por que, e como o acaso ali as colocou.  FONTE: BIARD, Auguste François. Dois ano...

As aves em atividades nas fruteiras silvestres

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               Todas as aves estavam em atividade e das fruteiras silvestres próximas ouvíamos frequentemente o grito estrídulo dos tucanos ( Rhamphastos vitelinus ). Quase todas as manhãs passavam, voando muito alto, pequenos bandos de papagaios, destacando-se no céu azul, sempre aos pares, a palrar, separados uns dos outros por intervalos regulares. Na altura em que iam não era possível apreciar-lhes o brilhante colorido. Depois do almoço dedicávamos o tempo, das 10 da manhã às três da tarde, à entomologia, pois o melhor tempo para os insetos na mata é um pouco antes da canícula. FONTE:  BATES, Henry Walter. O naturalista no rio Amazonas . São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. v. 1. p. 94. (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 5a. Brasiliana, v. 237). Tucano J. Th. Descourtilz.  Pageantry of brazilian birds in their natural surrooundings . Amsterdam; Rio de Janeiro Colibris Ed. 1960.

As flores do Ingá

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          Dos ramos mais altos até rente à água, descem fitas de trepadeiras de folhagens as mais diversas e as mais ornamentais que se possa imaginar. Os convolvulos e outras trepadeiras utilizam as lianas delgadas e as raízes aéreas como escadas para subir por elas. De vez em quando aparece uma Mimosa ou outra árvore de folha recortada, e densas massas de ingazeiras chegam até a margem, com suas longas vagens pendentes dos ramos, de colorido e aspecto diversos, segundo as espécies, algumas tendo mais de uma jarda de comprimento. [...]. Há também algumas flores salpingomorfas amarelas e violetas (Bignoniaceas). As flores dos ingás, embora não sejam vistosas são de delicada beleza.  FONTE: BATES, Henry Walter. O naturalista no rio Amazonas . São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. v. 1. p. 257-258. (Série 5a. Brasiliana, v. 237 ). Inga insignis Kunth, K. S. Mimosas et autre plantes legumineuses du noveau continent. t. 13. 1819-1824. www. plantillu...

Legiões de saíras, tangarás, e tiês nas árvores altas ao longo dos igarapés e riachos

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A planície que a seguir se estende da praia às primeiras elevações do solo, são, de ordinário, arenosas e despidas, ou semeadas de grupos de cactáceas, que afetam múltiplas formas: globosas, em colunas, em candelabros ou reunidas em florestas eriçadas de espinhos acerados. Aí se encontram as peruinhas e pequenas espécies de pombas. Algumas aves de rapina, de caráter cruel e selvagem, pairam a procura de vítimas ou arrostam o ardor do sol, empoleiradas, imóveis sobre os arbustos pouco abundantes destas regiões, a que os naturais chamam restingas. Esta aridez, entretanto, desaparece nas vizinhanças dos riachos e dos lagos por eles alimentados onde crescem bambus e taludes de verdura. Mirtáceas, eugenias, tamarineiros e laranjeiras aí crescem com vigor; as árvores mais altas, que se sobrepõem a essas, abrigam legiões de tangarás, de saíras e tiês de cores vivas e brilhantes, mas cujas vozes raramente são melodiosas. [...]. FONTE: DESCOURTILZ, Theodore. História natural das aves do Brasil ...

Os Surucuás

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          Ora solteiros, ora aos casais, por toda parte em nossas matas se encontram os Surucuás, nas várzeas como nas serras, em regiões úmidas como em regiões secas, pobres d´água. Posso até assegurar que as touceiras quentes e secas de taquaras, nos lugares em que rendem matas, são os pontos prediletos desta ave; ali não é fácil deixar de encontrá-los. Ora é uma vara fina em cuja ponta curvada esta ave escolhe seu observatório, ora é o galho baixo, horizontal de um arbusto, ora o braço espesso de uma embaúba que se debruça na altura por sobre a vereda. Ali queda-se ela, sem cuidados, de olhos abertos para o mundo, sonhando ao sol grande. Apenas uma vez por outra notamos uma volta do pescoço ou um voejo curto, manso e silencioso como o da Coruja, dado na circunferência de alguns metros apenas, - trata-se então de algum inseto imprevidente, apanhado habilmente no largo bico encoberto de barbas. Quando está de bom humor ou sabe que a fêmea está perto, então...

Uma pitoresca cena nos furos dos rios da Amazônia

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          Deixando para trás o gigantesco rio Amazonas, o pequeno veleiro penetrava agora naquele estreito braço que conduziria até o rio Gurupatuba, onde se fazia sempre a completa ausência do vento;  e a mansuetude daquele lindo estirão embevecia o solitário pescador, induzindo-o sonhar com um mundo melhor. Olhava para as margens, tão perto uma da outra, e lembrava-se da destreza com que os pilotos dos navios conseguiam por ali passar até atingir o rio das muitas canoas, nome que os índios haviam denominado no passado. Apreciava sorrindo, o susto que os ananís, garças e piaçocas tomavam quando, silenciosamente, a canoa se aproximava das pequenas enseadas dos mururezais e capinzais encostados nas margens. Elas voavam cantando para outro lado, novamente à procura de novos cardumes de peixes miúdos e camarões. [...]. FONTE: FRIAES, Pinon. O extermínio do peixe-boi . 2. ed. [s.n.]. 1997. p. 37.    Patos e Marrecas Álbum de Aves Amazônicas ...

A Piaçoca

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          A "Piaçoca" é por aí talvez a ave a mais frequente de toda a ordem dos Grallatores. Nas partes mais planas do Brasil vive em todas as localidades pantanosas, nos campos úmidos, tanto no litoral como no interior, em todos os rios, e mesmo no interior, de regiões cobertas de mata, logo que surjam atravessadas por cursos d´água. Lá ela sapateia, de passo grave, sobre as grandes folhas largas das plantas aquáticas que se estendem na superfície (Nymphaeas, Pontederias, Eichhornias) e outros vegetais, (como as ilhas flutuantes de canarana), onde pode mover-se facilmente, graças ao seu pouco peso e ao comprimento dos dedos. [...]. Quando a gente se aproxima dela demais, seja a pé num pasto úmido, seja em rápida canoa na beira solitária de um rio, ela se levanta, voa um pedaço em direção horizontal, mas pousa de novo logo - pois não gosta propriamente de voar, nem o pode bem, visto as asas por demais curtas. Ela tem conhecimento disto. FONTE: GOELDI, Emíl...