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Mostrando postagens de outubro, 2024

Uma Sumaumeira gigantesca

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          O paranazinho estreita-se ainda mais, aos dez minutos de marcha. Ninguém diz uma palavra. Um encalhe ali é perigoso: as piranhas são as últimas a abandonar o rio, por ocasião da vazante, e nós teríamos de cair n´água para tentar desembaraçar nosso barco do fundo barrento. Uma sumaumeira gigantesca, de uns 60 metros de altura, ergue-se bem na beira do barranco. O fruto da sumaumeira, quando chega o seu "tempo", espoca e dele caem fios alourados e macios, como seda, que servem para encher travesseiros: os caboclos destas paragens recostam sua cabeça nos travesseiros mais macios do mundo. FONTE:  MELLO, Thiago de. Notícia da visitação que fiz no verão de 1953 ao Rio Amazonas e seus barrancos. Manaus: Editora Valer, 2020. p. 69-70. Sumaumeira ( Ceiba pentandra ) na Ilha de Colares - Praia do Humaitá - PA Fotografia de Rosane Oliveira A mesma Sumaumeira em plena liberação de suas sementes envoltas numa paina (kapoc). Milhões de minúsculas sementes envoltas numa fibra ti

Arara azul

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          As Araras são por certo uma das mais brilhantes figuras das florestas equatoriais da América do Sul, e compreender-se-á facilmente quanto ficamos surpreendidos por encontrar aqui, na costa da Guiana, uma das espécies mais raras, a Arara azul ( Ara hyacinthina ) em circunstâncias que nos permitem de a considerar uma ave comum nestas regiões. De uma vez vimos juntos oito indivíduos, formando quatro casais. Os indígenas, todos brasileiros do Estado do Pará (pelo menos ao longo do Cunani e da região costeira do Norte) falam da Arara azul, que é aliás uma espécie rara nos jardins zoológicos, como uma "ave de arribação", comum na estação seca, e ausente durante certos meses. Pouco depois tive ensejo de convencer-me pessoalmente de que a Ara hyacinthina estava realmente de choco nesta estação na zonas costeira da Guiana meridional. FONTE: GOELDI, Emílio A. Resultados ornithologicos de uma viagem de naturalistas à costa da Guyana meridional. Boletim do Museu Paraense de Hi

A cada momento uma surpresa, uma revelação ...

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         E a cada passo, a cada momento, uma revelação, uma surpresa, um espanto novo dentro da ramaria entrançada, da teia retorcida dos cipós, das moitas de ervas -  de tudo aquilo que parece deter o nosso passo, que nos prende ao solo úmido, que nos fecha todas as direções, sem uma clareira para desafogo.          Cerca-nos por todos os lados um estranho universo que nem poderíamos imaginar.          Os vegetais tomam aspectos surpreendentes, são como singular sociedade onde cada indivíduo tem uma função determinada, um temperamento, uma atitude, uma vida própria. Parece que existe uma lei especial regendo aquele organismo fitológico que começamos a compreender, a estudar, a respeitar, como se fossem nossos irmãos, inferiores apenas pela mudez e pela estabilidade.             Certamente deve ter sido essa a impressão de todos os sábios, de todos os fitógrafos, de todos os naturalistas que penetraram nessas florestas venerandas: - impressão de temor, de assombro, de fascinação, de cu