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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Um verdadeiro temporal

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"[...]. Estando o dia abrasador, a atmosfera baixa e nuvens carregadas para o S ameaçando mudança de tempo, pelas 3 horas da tarde dirigi-me para Itaituba. Depois de uma hora de viagem começou a soprar o vento, que crescendo sempre, encapelou as águas, que a custo podia a força de dois remos rompe-las. Sobrevindo depois chuva, acompanhada de repetidos relâmpagos e trovões, formou-se um verdadeiro temporal, acompanhado de furacões, que me obrigou a arribar a uma praia, com grande dificuldade, já molhado não só pela chuva como pela água que entrava na canoa ocasionada pela quebra das vagas de encontro ao seu costado. Então, tive ocasião de observar o temporal sem risco de vida, um dos maiores que costumam assolar essa paragem. A chuva cessara. O vento mugia pela floresta, levando ante si inúmeras folhas, flores e galhos; as águas encapeladas pareciam refletir com rapidez; o ruído da chuva e dos trovões era aterrador, entretanto o sol estava fora, a tarde clara, e só grossas nuvens

Um verdadeiro túnel de verdura

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"[...]. Graças a essa excursão, pisei, hoje, pela primeira vez, a floresta amazônica. Todo o nosso percurso foi feito através de um verdadeiro túnel de verdura, entrecortado de dois ou três regatos, aliás quase secos. A mata é portentosa e só por uma ou outra clareira o sol consegue vencer a grenha hirsuta e verde das frondes que se entretecem no alto. Como colunas mestras desse majestoso zimbório, alteiam-se aqui e ali os grossos e sombrios troncos das castanheiras. São também gigantescos os tauaris, que o General me dá a conhecer. De sua entrecasca os nativos conseguem boa estopa e até mortalha para cigarros. Entre as palmeiras, destaco as murumurus, de palmas brotando do chão, à maneira de enormes cocares. Não raro, um amontoado de pétalas coloridas, juncando o nosso caminho, denuncia as árvores que andam a florir lá por cima, mas que não vemos. Assim, deve provir daqueles mesmos tauaris, o pintalgado vermelho, sobre o folhedo, em que pisamos uma vez. Corolas cremes e estre

Um soberbo panorama

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"[...]. No dia seguinte pelas 6 horas da manhã tomando um animal, subi ao cume da serra, para examinar a floresta. Daí goza-se um soberbo panorama, vendo-se até perder-se nas nuvens do horizonte, inúmeros igarapés que correm pelas terras baixas, distinguindo-se bem o Tapajós, assoberbado tudo pelo volume do Amazonas; apresentando o aspecto geral, de um mar coberto de ilhas e penínsulas de verdejante vegetação. Depois de por algum tempo,  gozar as delícias de uma das brilhantes páginas da natureza do equador, segui tendo a minha esquerda um grande cacoal, onde ouvia-se cantar o japu ( Cassicus cristatus ), e à minha direita um imenso canavial, ocupando ambos a chapada da serra ou a terra preta, chamada. [...]. Apeando-me à entrada da mata, fui puxando o animal por entre ela, para melhor observar e coletar. Pouco depois de deixar o lugar cultivado, comecei insensivelmente a descer à sombra de um imenso docel de verdura, que a centenas de pés ficava acima de minha cabeça. [...].

Os músicos da selva

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"Em nenhum outro lugar do mundo existem tantas aves canoras como nas florestas. A natureza, aí, é uma orquestra. Seus instrumentos são as lufadas agitadas dos ventos, o tamborilar da chuva, o farfalhar das folhas. Os insetos acompanham em surdina. O baixo é representado pelo coaxar dos sapos. E os solistas são os pássaros canoros. Raramente existe silêncio completo na mata. Mesmo ao meio-dia, quando a maioria dos animais da floresta se esconde do  sol ainda se ouve o zumbir das abelhas e das moscas de cores álacres, assim como o coro dos sapos. Quando a névoa matinal começa a ceder lugar aos raios do sol, as vozes das aves penetram a floresta. Os insetos  despertam para a vida. As borboletas, e entre elas as grandes "Morphos", azuis e brancas, batem as asas, vibram as extremidades delas e levantam voo nas sombras das verdes mansões. Os pássaros solistas espertam cantando. Às cinco horas ouve-se a voz de uma pomba, que parece dizer, em nossa língua "Maria, já é

Lindos e aristocráticos vegetais

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"Todas as ilhas, todas as margens, todas as penínsulas, toda a terra, em suma, daí para o jusante, povoa-se desses lindos e aristocráticos vegetais. Dir-se-ia rolarem para o banho da maré atlântica, de fluxo e refluxo, que desse ponto para a nascente se faz sentir, tal o florescimento, a pompa, o esplendor deles nas restingas e coroas. Há ínsulas fechadas de miritisais, verdadeiras paliçadas gigantescas, que ostentam no alto, como frisos esmeraldinos, os flabelos agitados pelo vento. E mal se penetra o arquipélago, seja pelo norte de Marajó, conhecido por Ilhas de Fora, seja pelo sul, conhecido  por Ilhas de Dentro, as palmeiras, numa orgia floral, reproduzem-se em mil formas, em mil tamanhos, em mil nuanças. De surpreendentes e altas cabeleiras, ora desgrenhadas como espanadores, ora ameaçadoras como cabeças de Medusa, ora harmoniosas como repuxos de verdura, elas minguam, reduzem-se aos tipos arbustivos, tufos rasteiros de palmas e plumas sob os quais zunem os grilos e chiam

As plantas que estavam em flor

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"Constando-me que em um sítio próximo do rio Piracanã existiam algumas igaçabas para ele me dirigi na madrugada do dia 6 de Julho, tomando para isso uma montaria tripulada por dois tapuios, e indo amanhecer na ponta da ilha de Camararury que divide o Tapajós em dois braços, estendendo suas praias por ele a dentro em grande extensão. Querendo conhecer a vegetação que orna as margens, quer da ilha quer do rio, nesse lugar, tomei pelo braço que costeia a ilha pela margem esquerda e desci. Tomando nota das plantas que estavam em flor, ou mais abundava nas margens, notei que uma ou outra soqueira de jauari aparecia,  rompendo a espessa ramada, feita de algumas plantas sarmentosas, que aí crescem em abundância tornando inacessível as margens, sem auxílio de algum instrumento que abra passagem. Começando a vazar o rio, contudo as águas beijavam ainda as raízes e ramas dessa longa cipoada, dentre a qual e além via-se romper e aparecer grandes pés de tachi do igapó, uma polygoniácea, d