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Mostrando postagens de 2025

Legiões de saíras, tangarás, e tiês nas árvores altas ao longo dos igarapés e riachos

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A planície que a seguir se estende da praia às primeiras elevações do solo, são, de ordinário, arenosas e despidas, ou semeadas de grupos de cactáceas, que afetam múltiplas formas: globosas, em colunas, em candelabros ou reunidas em florestas eriçadas de espinhos acerados. Aí se encontram as peruinhas e pequenas espécies de pombas. Algumas aves de rapina, de caráter cruel e selvagem, pairam a procura de vítimas ou arrostam o ardor do sol, empoleiradas, imóveis sobre os arbustos pouco abundantes destas regiões, a que os naturais chamam restingas. Esta aridez, entretanto, desaparece nas vizinhanças dos riachos e dos lagos por eles alimentados onde crescem bambus e taludes de verdura. Mirtáceas, eugenias, tamarineiros e laranjeiras aí crescem com vigor; as árvores mais altas, que se sobrepõem a essas, abrigam legiões de tangarás, de saíras e tiês de cores vivas e brilhantes, mas cujas vozes raramente são melodiosas. [...]. FONTE: DESCOURTILZ, Theodore. História natural das aves do Brasil ...

Os Surucuás

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          Ora solteiros, ora aos casais, por toda parte em nossas matas se encontram os Surucuás, nas várzeas como nas serras, em regiões úmidas como em regiões secas, pobres d´água. Posso até assegurar que as touceiras quentes e secas de taquaras, nos lugares em que rendem matas, são os pontos prediletos desta ave; ali não é fácil deixar de encontrá-los. Ora é uma vara fina em cuja ponta curvada esta ave escolhe seu observatório, ora é o galho baixo, horizontal de um arbusto, ora o braço espesso de uma embaúba que se debruça na altura por sobre a vereda. Ali queda-se ela, sem cuidados, de olhos abertos para o mundo, sonhando ao sol grande. Apenas uma vez por outra notamos uma volta do pescoço ou um voejo curto, manso e silencioso como o da Coruja, dado na circunferência de alguns metros apenas, - trata-se então de algum inseto imprevidente, apanhado habilmente no largo bico encoberto de barbas. Quando está de bom humor ou sabe que a fêmea está perto, então...

Uma pitoresca cena nos furos dos rios da Amazônia

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          Deixando para trás o gigantesco rio Amazonas, o pequeno veleiro penetrava agora naquele estreito braço que conduziria até o rio Gurupatuba, onde se fazia sempre a completa ausência do vento;  e a mansuetude daquele lindo estirão embevecia o solitário pescador, induzindo-o sonhar com um mundo melhor. Olhava para as margens, tão perto uma da outra, e lembrava-se da destreza com que os pilotos dos navios conseguiam por ali passar até atingir o rio das muitas canoas, nome que os índios haviam denominado no passado. Apreciava sorrindo, o susto que os ananís, garças e piaçocas tomavam quando, silenciosamente, a canoa se aproximava das pequenas enseadas dos mururezais e capinzais encostados nas margens. Elas voavam cantando para outro lado, novamente à procura de novos cardumes de peixes miúdos e camarões. [...]. FONTE: FRIAES, Pinon. O extermínio do peixe-boi . 2. ed. [s.n.]. 1997. p. 37.    Patos e Marrecas Álbum de Aves Amazônicas ...

A Piaçoca

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          A "Piaçoca" é por aí talvez a ave a mais frequente de toda a ordem dos Grallatores. Nas partes mais planas do Brasil vive em todas as localidades pantanosas, nos campos úmidos, tanto no litoral como no interior, em todos os rios, e mesmo no interior, de regiões cobertas de mata, logo que surjam atravessadas por cursos d´água. Lá ela sapateia, de passo grave, sobre as grandes folhas largas das plantas aquáticas que se estendem na superfície (Nymphaeas, Pontederias, Eichhornias) e outros vegetais, (como as ilhas flutuantes de canarana), onde pode mover-se facilmente, graças ao seu pouco peso e ao comprimento dos dedos. [...]. Quando a gente se aproxima dela demais, seja a pé num pasto úmido, seja em rápida canoa na beira solitária de um rio, ela se levanta, voa um pedaço em direção horizontal, mas pousa de novo logo - pois não gosta propriamente de voar, nem o pode bem, visto as asas por demais curtas. Ela tem conhecimento disto. FONTE: GOELDI, Emíl...

A Madeira

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          Eu só vou louvar algumas da minha predileção. Ou do meu respeito. E vou dizendo logo o nome da itaúba preta, a preferida de quem gosta do que é bom e que nunca se acaba. Para esteio, assoalho, cumeeira, fundo de barco, casco de canoa, arpão (tem pescador de zagaia que prefere arpão de maçaranduba, por mais pesado), pernamanca de telhado, tacaniça, viga de sustentação - a itaúba é pau para toda obra. Mas desde que seja a parte do âmago. Não tem água, nem terra, nem cupim que dê com ela. Já a carne branca, a parte logo abaixo da casca, mestre carpinteiro que se preza não lida com ela. Maçaranduba, mogno, mungubeira, sucupira, pau-d´arco, preciosa, sumaumeira, açacu, jacarandá, acariquara, louro, cumaru. De cedreiro altaneiro não me esqueço, sobretudo do roxo, tão esquivo. Nem do lenho-mulato, pau de trava, muito menos da linda lombrigueira. FONTE: MELLO, Thiago. Amazonas : água, pássaros, seres e milagres do pedaço mais verde do planeta. Rio de Jane...

Uma autêntica selva de pântano tropical

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          A vegetação mostra uma autêntica selva de pântano tropical, como somente a fantasia mais corajosa a poderia imaginar. Em toda a parte vêm-se árvores de folhagem, do tipo de mangrove, debaixo de cujas raízes-escoras encurvadas poderia passar uma canoa, em caso de necessidade; palmeiras de yuary   defendidas por longos espinhos, altas palmeiras de miriti e os epífitos variados que podem viver a sua vida de parasitas, graças ao ar supersaturado de vapor d´água; tudo emaranhado por plantas trepadeiras, num caos inextrincável. FONTE: KOCH-GRUNBERG, Theodor.  Dois anos entre os indígenas : viagens no noroeste do Brasil 1903-1905. Manaus: EDUA/FSDB, 2005. Palmeira Jauari (Astrocarium jauary) Ilustração de J. Barbosa Rodrigues (1842-1909)

Uma planta aquática exótica

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          À medida que prosseguíamos, a floresta de árvores enormes, com raízes que desciam ao longo dos troncos reforçando sua estrutura, tornava-se mais densa e a luminosidade, mais fraca. Foi na suave luz esverdeada que vi uma colônia de Rapateceae, plantas aquáticas exóticas. De suas grandes folhas com o centro rosa-choque surgiam talos delgados coroados por duas brácteas triangulares cor-de-rosa, dentre as quais conjuntos de pétalas amarelo-claras surgiam dos cálices vinho-escuros. As pétalas eram tão delicadas que quase flutuavam pelo ar e não resistiriam à nossa viagem, por isso decidi deixá-las para a volta. Em pouco tempo estávamos longe, penetrando em uma floresta tão escura e ressonante quanto uma catedral. FONTE: MEE, Margaret. Flores da floresta amazônica : a arte botânica de Margaret Mee. 2. ed. São Paulo: Escrituras, 2010. p. 36.   Rapatea paludosa.   Margaret Mee. Flores da floresta amazônica . 2010.

Mil coisas bonitas para ver nesses campos

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          Longe do rio, podemos cavalgar milhas e milhas pelos campos ventilados, mas devemos fazer longas voltas para evitar os lagos e florestas inundadas e bosquetes de aningas de folhas em forma de escudo. Há mil coisas bonitas para ver nesses campos; flores brilhantes, brancas e amarelas, marcam a superfície, lindos silvídeos e negros japus assobiadores, poucos peixes nas lagoas e coruscantes libélulas caçando outros insetos por sobre os juncais; arbustos de folhagem delicadamente plumosa debruçam-se e estendem-se com gratidão ao sol; mas se você sacudir o ramo fortemente, eles se fecham e dobram numa triste e muda demonstração, o protesto de seu desamparo contra a força bruta. Eu devo ser delicado com as plantas sensitivas; deve haver um poder mais alto que o meu vigiando-as. Pois todas as noites elas põem as mãos e inclinam a cabeça em silenciosa prece e vão dormir calmamente sob o orvalho suave; todas as manhãs se levantam com lágrimas de prata de a...

A magnitude da vegetação

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             Sem o auxílio do lápis é deveras difícil dar uma ideia adequada da magnitude desta vegetação, em especial do modo com que tantas variedades se agrupam. Podemos ver crescer, é certo, em nossa próprias estufas algumas graciosas palmeiras, belas orquídeas com suas flores anormais, plantas do gênero Aroideae de folhas viçosas às vezes perfuradas em padrões regulares; mas o quão diferente é ver tudo isso na mata virgem, onde a natureza imperturbada pelo homem cria seus próprios prodígios, e onde não há vasos separando as filhas do solo maternal, e onde nenhum teto opaco de vidro intervém entre elas e o éter azulado!           Também nas estufas nossos olhos jamais poderiam ser agraciados com tamanhos contrastes de cor como os matizes cinza-prateado e marrom-ferrugem das folhas caídas de palmeiras e samambaias, ou o negro-escuro de um tronco apodrecido em contraste com o vermelho flamejantes da flor de uma helicôni...

Uma grandiosa cena da vida animal

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          A cena da vida animal que ora se apresenta aos nossos olhares é tão grandiosa e imponente que todos permanecemos estupefatos, retendo a respiração, cada um perguntando a si mesmo se o que vê é real ou não será uma "fata morgana" e deslumbramento de algum sonho. [...]           O que ali está em aves do brejo e aquáticas, palmípedes e pernaltas, acumuladas em um espaço relativamente pequeno; tudo o que está ali se enlameando, chapinhando, esgaravatando, bicando, mergulhando, nadando, voando, piando, grasnando, gritando, tudo ao mesmo tempo, num fervet opus  incrível, desafia qualquer descrição: diante de tais quantidades é impossível contar o dificílimo, mesmo avaliar e todos os recursos da linguagem não são bastante expressivos e brilhantes para dar uma ideia do barulho, da confusão que ali reina.         Algum êxito teria talvez, no que toca à vista, o pincel de um privilegiado pintor de...

O ajuru adocicado, de cores e diversos tamanhos

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        Godofredo, saiu, ficou olhando a baía. Tentou desaparecer assobiando, errante como um bem-te-vi, e apanhava o voo do uirapuru assustado, vozes e sabores daquele tempo. Varou o capinzal em flor beirando a Praia da Mangabeira, dá com o ajuru - fruto gostoso de comer - como este ano a árvore carregou! Dava inveja. Apanhou um, depois dois, três e tantos outros, comeu à vontade, com prazer. O ajuru adocicado, de cores diversos e  tamanhos, negros graúdos, carnudos, brancos pontos alaranjados, miúdos. Que beleza! FONTE:  BOULHOSA, Ernesto Feio. Nas margens da Baía do Marajó . Belém: Cromos, 2020. p. 137. Ajuru Ilustração de Eron Teixeira