Os Surucuás
Ora solteiros, ora aos casais, por toda parte em nossas matas se encontram os Surucuás, nas várzeas como nas serras, em regiões úmidas como em regiões secas, pobres d´água. Posso até assegurar que as touceiras quentes e secas de taquaras, nos lugares em que rendem matas, são os pontos prediletos desta ave; ali não é fácil deixar de encontrá-los. Ora é uma vara fina em cuja ponta curvada esta ave escolhe seu observatório, ora é o galho baixo, horizontal de um arbusto, ora o braço espesso de uma embaúba que se debruça na altura por sobre a vereda. Ali queda-se ela, sem cuidados, de olhos abertos para o mundo, sonhando ao sol grande. Apenas uma vez por outra notamos uma volta do pescoço ou um voejo curto, manso e silencioso como o da Coruja, dado na circunferência de alguns metros apenas, - trata-se então de algum inseto imprevidente, apanhado habilmente no largo bico encoberto de barbas. Quando está de bom humor ou sabe que a fêmea está perto, então uma vez por outra solta um gr-r-r satisfeito, inclinando-se ao mesmo tempo, enfunando-se e abanando-se com a cauda aberta em forma de leque. Tem além disso um apelo claro melancólico, monossilábico que soa como um tiu tiu tiu soprado fácil de imitar-se, com o qual se pode atrair a grande distância esta ave crédula e levá-la a passeio na mata por um lado e outro, [...].
A credulidade e confiança do Surucuá é incrivelmente grande.
FONTE:
GOELDI, Emílio A. As aves do Brasil. Rio de Janeiro: Alves, 1894. p. 182-183.
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Surucuás. DESCOURTILZ, Jean Theodore Ornithologie Bresilienne Ou Histoire Des Oiseaux Du Brésil,.[1852-1856]. www.biodiversitylibrary.org |
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