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Mostrando postagens de janeiro, 2025

Mil coisas bonitas para ver nesses campos

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          Longe do rio, podemos cavalgar milhas e milhas pelos campos ventilados, mas devemos fazer longas voltas para evitar os lagos e florestas inundadas e bosquetes de aningas de folhas em forma de escudo. Há mil coisas bonitas para ver nesses campos; flores brilhantes, brancas e amarelas, marcam a superfície, lindos silvídeos e negros japus assobiadores, poucos peixes nas lagoas e coruscantes libélulas caçando outros insetos por sobre os juncais; arbustos de folhagem delicadamente plumosa debruçam-se e estendem-se com gratidão ao sol; mas se você sacudir o ramo fortemente, eles se fecham e dobram numa triste e muda demonstração, o protesto de seu desamparo contra a força bruta. Eu devo ser delicado com as plantas sensitivas; deve haver um poder mais alto que o meu vigiando-as. Pois todas as noites elas põem as mãos e inclinam a cabeça em silenciosa prece e vão dormir calmamente sob o orvalho suave; todas as manhãs se levantam com lágrimas de prata de a...

A magnitude da vegetação

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             Sem o auxílio do lápis é deveras difícil dar uma ideia adequada da magnitude desta vegetação, em especial do modo com que tantas variedades se agrupam. Podemos ver crescer, é certo, em nossa próprias estufas algumas graciosas palmeiras, belas orquídeas com suas flores anormais, plantas do gênero Aroideae de folhas viçosas às vezes perfuradas em padrões regulares; mas o quão diferente é ver tudo isso na mata virgem, onde a natureza imperturbada pelo homem cria seus próprios prodígios, e onde não há vasos separando as filhas do solo maternal, e onde nenhum teto opaco de vidro intervém entre elas e o éter azulado!           Também nas estufas nossos olhos jamais poderiam ser agraciados com tamanhos contrastes de cor como os matizes cinza-prateado e marrom-ferrugem das folhas caídas de palmeiras e samambaias, ou o negro-escuro de um tronco apodrecido em contraste com o vermelho flamejantes da flor de uma helicôni...

Uma grandiosa cena da vida animal

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          A cena da vida animal que ora se apresenta aos nossos olhares é tão grandiosa e imponente que todos permanecemos estupefatos, retendo a respiração, cada um perguntando a si mesmo se o que vê é real ou não será uma "fata morgana" e deslumbramento de algum sonho. [...]           O que ali está em aves do brejo e aquáticas, palmípedes e pernaltas, acumuladas em um espaço relativamente pequeno; tudo o que está ali se enlameando, chapinhando, esgaravatando, bicando, mergulhando, nadando, voando, piando, grasnando, gritando, tudo ao mesmo tempo, num fervet opus  incrível, desafia qualquer descrição: diante de tais quantidades é impossível contar o dificílimo, mesmo avaliar e todos os recursos da linguagem não são bastante expressivos e brilhantes para dar uma ideia do barulho, da confusão que ali reina.         Algum êxito teria talvez, no que toca à vista, o pincel de um privilegiado pintor de...

O ajuru adocicado, de cores e diversos tamanhos

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        Godofredo, saiu, ficou olhando a baía. Tentou desaparecer assobiando, errante como um bem-te-vi, e apanhava o voo do uirapuru assustado, vozes e sabores daquele tempo. Varou o capinzal em flor beirando a Praia da Mangabeira, dá com o ajuru - fruto gostoso de comer - como este ano a árvore carregou! Dava inveja. Apanhou um, depois dois, três e tantos outros, comeu à vontade, com prazer. O ajuru adocicado, de cores diversos e  tamanhos, negros graúdos, carnudos, brancos pontos alaranjados, miúdos. Que beleza! FONTE:  BOULHOSA, Ernesto Feio. Nas margens da Baía do Marajó . Belém: Cromos, 2020. p. 137. Ajuru Ilustração de Eron Teixeira