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O Jacamim e as cobras

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          Que haverá na constituição de certos animais - notavelmente de algumas aves - que os torna invulneráveis - ou quase - às mordidas das serpentes venenosas? Dizem que o agami (Jacamim) ou corneteiro ( Psophia crepitans ) é imune a mordidas de cobra. Posso testemunhar que essa ave de fato não teme os ofídios, revelando grande habilidade em caçá-los, sem medo de bicá-los em qualquer parte do corpo e sabendo como esquivar-se de seus frequentes contra-ataques. Em Panuré, à beira do Uapés, havia um agami domesticado que se afeiçoou de mim a tal ponto que costumava me seguir como se fosse um cão. Ele nunca falhou em dar cabo de qualquer cobra que cruzasse nosso caminho.            Certo  dia, saí sozinho com esse agami pela caatinga afora. Chegando a cerca de 4 milhas [6,44 km] da aldeia, pus-me a vaguear por um lugar relativamente limpo de vegetação rasteira, no qual abundavam certas plantas diminutas (Burmaniáceas) que eu estava muito interessado em colher. Enquanto procurava os ex

Vitória-Régia - a "estrela das águas"

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          No mistério das águas profundas dos rios e dos lagos amazônicos há sempre uma estória a contar. Não há quem, tendo visto uma vitória-régia em toda sua plenitude, adornando um lago ou enfeitando um rio, possa esquecer aquele cenário de verdadeiro encantamento. O remanso dos rios ou o lago que é seu viveiro, são espelhos onde Iaci - a Lua - vaidosa e sedutora, reflete-se para chamar a atenção das caboclas que a têm como visão inspiradora do amor.       No cimo das colinas as cunhãs esperavam o aparecimento de Iaci, acreditando que ela trouxesse o bem do amor, pois seu beijo tornava-as iluminadas, desmaterializando-as e transformando-as em estrelas.        Contam que, certa vez, uma linda cunhã, levada pelo amor, querendo transformar-se em estrela pelo contato selênico, procurou as grandes elevações, montes, colinas e serras, na esperança de ver seu sonho realizado, naquele momento de magia e de felicidade. Naquela noite de luar, quando as estrelas do céu pareciam entoar cântico

América do Sul: o continente dos frutos

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          A América do Sul também poderia ser chamada de "continente dos frutos". Suas florestas, especialmente as florestas pluviais, possuem a mais diversa gama de frutos e de animais frugívoros de toda a região continental. Entre os vertebrados, as aves possuem a maior diversidade de espécies frugívoras. As principais aves frugívoras das matas inundadas da Amazônia são araras, papagaios, periquitos, mutuns, tucanos, anambés e seus parentes, uirapurus, japiins, japus, alguns fringilídeos (cardeais e curiós) e saíras e afins. No grupo de frugívoros, certamente está a maioria das mais belas aves das matas inundadas. [...].   FONTE: GOULDING, Michael. História natural dos rios amazônicos . Brasília: Sociedade Civil Mamirauá/CNPq/Rainforest Alliance, 1997. 208 p. ; il. Japu na laranjeira Descourtilz, J. T. Oiseaux brillans du Brésil.  1834.  www.biodiversitylibrary.org

Palmeiras e samambaias com suas folhagens emplumadas

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          Grandes cipós e trepadeiras pendem dos galhos, alguns como cabos de navio em linhas retas, a balançar suavemente com os sopros de ar que passam, outros em grandes festões, alguns nus como uma corda, outros cobertos de folhas, flores e parasitas. Palmeiras, samambaias e bambus projetam sua folhagem emplumada a partir dos altos das margens, e formam os lados desta colunata de floresta. [...]. FONTE: WELLS, James W. Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil : do Rio de Janeiro ao Maranhão. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995. p. 257.   Samambaias. Expedição Langsdorff ao Brasil 1821-1829 Desenho de Hercules Florence

Jardins em miniatura

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          [...].  Quanto a vegetação gozei aqui pela primeira vez um espetáculo que só se pode ter nas cachoeiras e mesmo aqui só no princípio da vazante; todas as pedras desta cachoeira estavam cobertas de verdadeiras almofadas de Podostemaceas. O desenvolvimento destas plantas minúsculas e graciosas podia ser estudado aqui em todas as suas fases, do primeiro veio ligeiro e esverdeado a que se mostra nas pedras ainda completamente submergidas, até as camadas espessas e luxuriantes da folhagem plenamente desenvolvida à flor d´água, até as milhares e milhares de florzinhas que elevam suas mimosas corolas brancas em galinhos transparentes de cor de rosa nos lugares apenas abandonados pelas águas e até os restos quase invisíveis formados pelas plantas dissecadas que se encontram nas partes mais altas do pedral. Quem passa algumas semanas mais tarde pelo mesmo lugar não vê mais vestígio nenhum destes jardins em miniatura, cuja graça ainda é exaltada pelo contraste do deserto de pedras e ág

Os cipós nos furos de Breves-PA

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          Os verdadeiros cipós, cujo tronco principal tem o mesmo crescimento exagerado que nos arbustos-cipós se observa só em certos galhos, influem mais na fisionomia da vegetação litoral dos furos que estes. São principalmente as Passifloraceas e as Bignoniaceas [...]., que envolvem os troncos e descem em elegantes festões das copas de árvores altas, produzindo aqui e acolá aquelas cortinas de verdura matizadas de flores brancas, roxas ou cor de rosa que tanto impressionam o viajante. Munido com gavinhas, como estes cipós, encontramos ainda o Cissus sicyoides L. que entre todos os seus congêneres tem a particularidade de poder desenvolver raízes aéreas que, tais como fios suspensos, descem verticalmente dos galhos mais altos.           Um dos cipós mais vistosos dos furos, notável pelos seus cachos compridos de flores escarlates, trepa nas árvores mais altas, sem ter órgãos especiais para se agarrar nas outras plantas. [...]. Como se vê, os cipós pertencem às famílias mais diver

A esguia e alta Imbaúba

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         Olhando de cima para essas florestas, e outras similares nas Províncias adjacentes elas nos parecem todas iguais, porém cada seção delas, quando examinada de perto, é diferente de sua vizinha. Há miríades de árvores, arbustos, videiras e palmeiras, fetos, parasitas e orquídeas, cuja quantidade e variedade produzem infinitas mudanças de arranjos, e, consequentemente, a descrição mais minuciosamente detalhada de um atalho, ou do interior de qualquer parte da floresta, variava totalmente de outra a doze jardas de distância. Todavia, observando-se da altura o conjunto completo, vê-se uma quantidade e variedade de árvores que, por sua cor conspícua de folha, ou flor, ou pela forma, absorvem os detalhes menos distintos; por exemplo, a esguia e alta imbaúba de tronco oco, com suas grandes folhas peltadas, verde-claras por cima e branco-prata na parte de baixo, é um dos aspectos mais salientes, especialmente quando a brisa agita suas folhas em lampejos de verde e prata; [...]. FONTE: